sexta-feira, 19 abril, 2024 16:06

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8 de Março Dia Internacional da Mulher!

As histórias que remetem à criação do Dia Internacional da Mulher alimentam o imaginário de que a data teria surgido a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911, quando cerca de 130 operárias morreram carbonizadas. Sem dúvida, o incidente ocorrido em 25 de março daquele ano marcou a trajetória das lutas feministas ao longo do século 20, mas os eventos que levaram à criação da data são bem anteriores a este acontecimento.

Desde o final do século 19, organizações femininas oriundas de movimentos operários protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos. As jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias e os salários medíocres introduzidos pela Revolução Industrial levaram as mulheres a greves para reivindicar melhores condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas durante o período.

O primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, quando cerca de 1500 mulheres aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica e política no país. No ano seguinte, o Partido Socialista dos EUA oficializou a data como sendo 28 de fevereiro, com um protesto que reuniu mais de 3 mil pessoas no centro de Nova York e culminou, em novembro de 1909, em uma longa greve têxtil que fechou quase 500 fábricas americanas.

Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas na Dinamarca, uma resolução para a criação de uma data anual para a celebração dos direitos da mulher foi aprovada por mais de cem representantes de 17 países. O objetivo era honrar as lutas femininas e, assim, obter suporte para instituir o sufrágio universal em diversas nações.

Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) eclodiram ainda mais protestos em todo o mundo. Mas foi em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário Juliano, adotado pela Rússia até então), quando aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra – em um protesto conhecido como “Pão e Paz” – que a data se consagrou, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher, apenas em 1921.

Somente mais de 20 anos depois, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Nos anos 1960, o movimento feminista ganhou corpo, em 1975 comemorou-se oficialmente o Ano Internacional da Mulher e em 1977 o “8 de março” foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas.

“O 8 de março deve ser visto como momento de mobilização para a conquista de direitos e para discutir as discriminações e violências morais, físicas e sexuais ainda sofridas pelas mulheres, impedindo que retrocessos ameacem o que já foi alcançado em diversos países”, explica a professora Maria Célia Orlato Selem, mestre em Estudos Feministas pela Universidade de Brasília e doutoranda em História Cultural pela Universidade de Campinas (Unicamp).

No Brasil, as movimentações em prol dos direitos da mulher surgiram em meio aos grupos anarquistas do início do século 20, que buscavam, assim como nos demais países, melhores condições de trabalho e qualidade de vida. A luta feminina ganhou força com o movimento das sufragistas, nas décadas de 1920 e 30, que conseguiram o direito ao voto em 1932, na Constituição promulgada por Getúlio Vargas. A partir dos anos 1970 emergiram no país organizações que passaram a incluir na pauta das discussões a igualdade entre os gêneros, a sexualidade e a saúde da mulher. Em 1982, o feminismo passou a manter um diálogo importante com o Estado, com a criação do Conselho Estadual da Condição Feminina em São Paulo, e em 1985, com o aparecimento da primeira Delegacia Especializada da Mulher.

Entre muitas mulheres guerreiras, veja abaixo alguns exemplos de mulheres que colaboraram de maneiras extraordinárias para que a mulher tivesse o respeito e a posição que hoje ocupa diante dos olhos do mundo.

Imagine Inglaterra e França numa guerra sangrenta nos tempos medievais, a Guerra dos Cem Anos. Você acreditaria que uma mulher teve coragem para reunir um exército ao seu redor e influenciar esse conflito? Essa foi Joana D’Arc (1412 – 1431), uma francesa que acreditava ouvir vozes que instruíam seus atos na guerra. Sua liderança era uma afronta aos padrões sociais e religiosos da época e levaram a uma morte brutal: a fogueira.

No Brasil, nos tempos da colônia, Dandara foi esposa de Zumbi dos Palmares, com importante papel na resistência contra a escravidão. Além de esposa e mãe de três filhos, foi guerreira, participando de ataques e defesas de resistência nos Palmares. Suicidou-se quando capturada para não voltar a ser escravizada. Hoje em dia estudos comprovam que a mulher negra ainda é a que mais sofre discriminação no mercado de trabalho – Dandara é um exemplo de inspiração para reverter este quadro.

Outro exemplo de coragem e força foi Anita Garibaldi (1821 – 1949), que lutou ao lado de seu companheiro revolucionário Giuseppe Garibaldi em diversas batalhas no sul brasileiro, o que lhe rendeu o título de “Heroína de Dois Mundos”. Assim como Anita, Eva Perón (1919 – 1952) inseriu-se na vida política ao lado do esposo, no caso dela como primeira dama. Mas sua personalidade cativante e sua força renderam-lhe um lugar a parte na história: conhecida também como Evita, extremamente popular e querida pelo povo, criou o Partido Peronista Feminino e deu direito de voto as mulheres argentinas em 1947. Com sua Fundação Eva Perón foi referência na construção de hospitais, escolas, asilos para idosos e abrigos para mães solteiras.

Na história contemporânea, Margareth Thatcher foi a primeira mulher a dirigir uma democracia moderna, em 1979, ao ser eleita primeira-ministra do Reino Unido. Apesar de seu posicionamento político extremamente neoliberal ter rendido diversos retrocessos no aparato de proteção social do país, governou com dureza e rigidez, ganhando o apelido de “dama de ferro”. Vale ainda destacar Benazir Buttho (1953 – 2007), primeira mulher que ocupou o cargo de premiê de um país muçulmano dirigindo o Paquistão em duas ocasiões. Foi assassinada em plana campanha política.

E, cá entre nós, a maior inspiração de todas: Maria da Penha, brasileira e símbolo emblemático na luta pelo direito e proteção da mulher, é líder de movimentos contra a violência doméstica e conquistou, em 2006, a lei Maria da Penha, a qual aumenta o rigor e punições para violência contra a mulher. Devido às agressões de seu ex-marido, Maria da Penha tornou-se paraplégica, mas nunca desanimou de sua luta.

Não foi só no âmbito da política que as mulheres tiveram que lutar por seu espaço e direitos. Foi Coco Chanel (1883 – 1971) quem rompeu com as amarras da moda que só sabia vestir mulheres com vestidos e roupas de dona de casa. Estilista francesa, na década de 20 revolucionou os padrões da moda atribuindo ao vestuário feminino peças masculinas que valorizavam as curvas. Por causa dela, podemos usar calças e vestidos tubinhos sem qualquer ressentimento social (e, acredite, para época isso era muito forte!). Seu corte de cabelo acima dos ombros também era uma grande transformação para época (o famoso “chanel”).

Na literatura temos o exemplo britânico da escritora Virginia Woolf (1882  – 1941) e exemplo brasileiro da poetisa Cora Coralina (1889 – 1985). Cada qual a sua maneira, influenciou a literatura de seu país, com retratos da sociedade em que viviam.

Nas artes plásticas brasileira não podemos esquecer de Tarsila do Amaral (1886 – 1973), grande nome do movimento modernista brasileiro. Em sua fase “Pau-Brasil” retratou a fauna, a flora e os símbolos da modernidade urbana brasileiras com cores e imagens acentuadamente tropicais.

No cinema moderno, como esquecer de Marilyn Monroe (1926 – 1962), uma das maiores atrizes da indústria cinematográfica norte-americana, até hoje símbolo da sensualidade feminina. Atualmente, Gisele Budchen é ícone não só nas passarelas da moda, mas também em frentes de militância social e ambiental.