sábado, 20 abril, 2024 02:13

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As diferenças entre os cosméticos naturais, vegan e orgânicos. E 12 marcas em que pode confiar

Nem tudo o que é natural é orgânico. E muitos produtos vegan podem, na verdade, ter ingredientes testados em animais. Reunimos o que precisa de saber num mercado confuso e com informações duvidosas.

Não podemos ser aos mesmo tempo vegan, amigos da natureza e praticantes de ioga mas não segurar a porta do elevador para o nosso vizinho entrar. Esta é uma frase sarcástica que costuma circular nas redes sociais e que faz sentido quando queremos adotar uma posição de um lado mas acabamos por quebrá-la do outro. Reformulando: não podemos ser vegan e usar marcas de roupa que utilizam tecidos de animais, como couro ou pele. Também não podemos querer seguir uma rotina de beleza orgânica e usar maquilhagem com ingredientes sintéticos. Então, para adotarmos uma posição temos que nos informar.
A cosmética está cheia de informações duvidosas que, com o crescimento dos mercados orgânicos, naturais e vegan, está a gerar muita confusão. Termos como “orgânico” e “natural” podem ser enganadores e também são, muitas vezes, usados de forma errada e pouco credível — as embalagens dos produtos podem acabar por confundir o consumidor a comprar cosméticos que não são bem aquilo que afirmam. Criámos um pequeno guião para conseguir distinguir tudo o que é orgânico, vegan, natural e até cruelty-free.

Cosméticos naturais VS orgânicos
Muitas pessoas acreditam que um cosmético vegan também é natural ou orgânico mas não é bem assim. Uma marca pode não usar ingredientes animais – e ser, por isso, vegan -, mas ter uma composição química e, portanto, não é natural. A revista Marie Claire Brasil falou com Luisa Baims, criadora da marca de maquilhagem Baims (que é vegan, cruelty-free, orgânica e natural) que explicou de forma muito prática esta dúvida recorrente:

O natural não contém parabenos, fragrâncias ou corantes artificiais, derivados de petróleo, silicones e outros ingredientes. No entanto, o natural não é necessariamente orgânico porque pode ter um pequeno percentual de ingredientes sintéticos na sua composição. Já os cosméticos orgânicos, além de terem uma fórmula natural, são livres de ingredientes geneticamente modificados e sintéticos.”

Ou seja, um produto é considerado natural quando tem ingredientes que são originários da natureza (embora seja possível criar versões sintéticas de ingredientes naturais, como a vitamina E). Assim, a distinção entre cosméticos naturais e orgânicos está basicamente focada nos padrões de pureza dos ingredientes. Muitos dos produtos que usamos são naturais — porque têm ingredientes da natureza — mas não são orgânicos, porque alguns dos ingredientes naturais foram criados sinteticamente.
Um bom exemplo de marcas que são orgânicas e apenas usam ingredientes naturais sem sintéticos nas suas fórmulas são a Weleda e a Caudalie — 100% orgânicas e naturais. No entanto, há outras que embora tenham uma filosofia “verde”, na verdade podem criar dúvidas no consumidor. Um bom exemplo é a The Body Shop — apesar da sua luta contra os testes em animais, é uma marca que, a par com alguns produtos com certificado orgânico, tem outros com químicos na sua composição. O jornal britânico The Telegraph apresenta uma lista com algumas destas marcas que podem levar o consumidor ao engano como a Origins e a Aveeno.
A verdade por trás destes dois termos
É aqui que a coisa se torna mais cinzenta: há muitas formas de usar os termos “natural” e “orgânico” sem se ser realmente uma marca natural ou orgânica. O site Byrdie explica que o termo “natural” não é totalmente regulado, o que significa que qualquer empresa pode carimbar a palavra num rótulo, mesmo que o produto em questão esteja cheio de químicos sintéticos. O truque passa por saber identificar as marcas que não usam a palavra natural de forma fraudulenta. Leia os rótulos e escolha apenas produtos onde os ingredientes sintéticos estão principalmente na parte inferior da lista porque, na beleza, os ingredientes são listados da maior percentagem para a menor.
Já o termo orgânico — que basicamente significa que os ingredientes são cultivados organicamente — é mais seguro. Mas — porque há sempre um mas — um produto só tem de conter uma certa percentagem de matéria orgânica para ser declarado “orgânico” e, infelizmente, ainda não há uma legislação global (pode ler a regulamentação europeia para os cosméticos em português aqui). Isto significa que um creme pode usar o termo “orgânico” mas, na verdade, só ter 70% de ingredientes orgânicos. Procurar produtos com selos de credibilidade (dados por organizações reconhecidas, tal como se faz com os produtos que não testam em animais) é a melhor forma. O site EcoMundo mostra alguma das certificações mundialmente reconhecidas.

Cosméticos vegan VS que não testam em animais
Os termos “vegan” e “cruelty-free” não são sinónimos de “natural” ou “orgânico”, embora, por vezes, haja uma sobreposição. Os cosméticos vegan são aqueles que são livres de ingredientes de origem animal ou derivados de animais. No entanto, não significa que a marca seja totalmente green. O termo “vegan” é usado apenas para declarar que um produto não tem ingredientes animais mas, na verdade, pode ter ingredientes que são testados em animais. Mais uma vez, a informação é confusa.
Por outro lado, uma marca que não seja cruel não tem necessariamente de ser vegan, natural ou orgânica. Muitas das marcas mais conhecidas por lutarem contra os testes em animais são também das que mais químicos usam nas suas fórmulas. É ainda importante ter em conta que por um produto ser vegan não significa que seja natural porque pode ser composto por conservantes sintéticos. Tal como uma pessoa que siga uma dieta vegan pode comer Doritos (no sentido em que não se trata de queijo verdadeiro), muitos produtos de beleza vegan têm químicos sintéticos para substituir os ingredientes que sacrifiquem os animais.

O que é que podemos fazer?
Não tome as publicidades como seguras e lembre-se que muitas das embalagens e das afirmações publicitárias podem ser escritas de uma forma que nos induza deliberadamente em erro (tal como os cremes anti-idade não dizem que “anulam as rugas” mas sim que “retardam o aparecimento das rugas). Pesquise as marcas que gosta de comprar, procure selos e certificações que atestem a veracidade daquilo que o produto afirma ser, leia bem os ingredientes e perca algum tempo a estudar os rótulos das embalagens. No final do dia, depende apenas de nós , consumidores, colocar um travão na forma como muitas marcas nos tentam enganar e incentivar outras a criarem fórmulas cada vez mais puras e sem ingredientes nocivos à pele e à saúde.