sexta-feira, 29 março, 2024 11:00

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Consórcio – Uma Opção Para Compras e/ou Investimentos

Muitos brasileiros que moram fora do Brasil, fazem consórcios para comprar Imóveis e Carros no Brasil – Entenda como estes consórcios funcionam e se realmente valem a pena.

Em primeiro lugar, é importante entender o que é um consórcio. Essa forma de acumular patrimônio para aquisição específica de um bem funciona pela união de pessoas físicas ou jurídicas em um grupo fechado, tendo por objetivo o autofinanciamento de bens móveis e imóveis (carros, casas, apartamentos, máquinas pesadas, eletrodomésticos… pode haver consórcio para uma ampla gama de bens).

Esse “autofinanciamento” funciona da seguinte maneira: um grupo de consorciados paga a prestação do consórcio todo mês, e a cada período de tempo é feito o sorteio de um ou mais consorciados que serão contemplados com a carta de crédito e poderão obter, desde logo, o dinheiro desejado. Dependendo da quantidade de consorciados, o número de pessoas sorteadas pode variar – quanto mais consorciados, maior o volume de dinheiro arrecadado mensalmente e, com isso, podem ser sorteadas mais pessoas.

Além disso, os mais apressadinhos podem dar um lance e adquirir sua carta de crédito, adiantando um valor específico. Em determinadas situações, pode valer a pena. Por exemplo, imagine a situação de um consorciado que encontrou a casa dos seus sonhos, que custa R$ 600.000,00, e ele tem R$ 400 mil no bolso. Sua carta de crédito é de R$ 300.000,00, e ele verifica que os últimos lances que têm tido sucesso têm girado em torno de R$ 50.000,00. Ele poderia dar o lance de R$ 50 mil e levar a carta de crédito de R$ 300.000,00. Com isso, sobrariam para ele R$ 350 mil de suas economias, mais R$ 300 mil da carta de crédito – o que tornaria possível a compra do imóvel desejado, e ainda sobrariam outros R$ 50 mil que ele poderia utilizar para abater do valor devido no consórcio. A propósito, no mercado imobiliário é possível usar o saldo do FGTS para oferecer lances.

Não há juros cobrados, mas a instituição financeira que administra o consórcio cobra as famosas taxas de administração – que podem ser altas, equivalendo a algo entre 10% e 20% do valor pretendido. É uma taxa alta, mas usualmente é bem mais baixo do que o percentual cobrado a título de juros em financiamentos tradicionais. Além de não haver juros cobrados, a cada ano o valor da carta de crédito (e das prestações) é corrigido por um índice especificado, usualmente típico do mercado a que o bem está associado. Por exemplo, a carta de crédito dos imóveis pode ser corrigida pelo INCC (Índice Nacional de Custo de Construção).

Vantagens e desvantagens do consórcio

As vantagens do consórcio são basicamente as seguintes: em primeiro lugar, não são cobrados juros. Apesar de a taxa de administração poder vir a ser relativamente alta, usualmente é bem mais baixa do que os juros de outros financiamentos. O consórcio é uma maneira barata de financiar um bem, e é possível ser contemplado com a carta de crédito antecipadamente, mediante a oferta de lances. Para quem é sorteado cedo, a grande vantagem é desde logo poder adquirir o bem desejado e pagar um financiamento muitíssimo barato.

Mas existem desvantagens também.  A principal delas é a eventual demora em ser contemplado com a carta de crédito. Se você é contemplado nos primeiros meses ou anos, o consórcio é fantástico. Mas, quanto maior a demora, pior: afinal, é duro pagar anos a fio por um bem que não se está utilizando, sem perspectiva nenhuma quanto a isso. Imagine a situação de um consorciado que pretende adquirir um imóvel e, eventualmente, tem que pagar por ele por mais de uma década sem ser sorteado!

Ou seja, o elemento sorte é um fator a ser considerado por qualquer um que cogite essa modalidade de financiamento. Ou seja, só opte por ela caso você possa efetivamente esperar vários anos até ser sorteado, ou então se você pode se planejar para oferecer bons lances e eventualmente conseguir antecipar a carta de crédito.

Consórcio como investimento: uma abordagem não ortodoxa

Existe ainda uma maneira menos ortodoxa de ganhar dinheiro com consórcio. Em primeiro lugar, quero dizer que nunca fiz isso na minha vida e isso não é uma recomendação para ninguém. Mas, como algumas pessoas anunciam que estão fazendo isso com algum sucesso, achei por bem abordar o assunto.

É o seguinte: algumas pessoas veem o consórcio como uma forma de investimento, não de financiamento. Elas contratam um consórcio com o objetivo de vender a carta de crédito tão logo sejam contempladas, com ágio. Para ilustrar, vou citar o exemplo apresentado em um site que recomenda essa abordagem de investimento lastreada em consórcios.

Imagine que alguém tenha contratado um consórcio de 150 meses, com 600 participantes, para obter carta de crédito de R$ 50 mil, com prestações mensais de R$ 429,02. No décimo quarto mês, há uma atualização da prestação e da carta de crédito da ordem de 10% – ou seja, a prestação subirá para R$ 471,92, e o valor da carta de crédito, para R$ 55 mil. Digamos que ele seja contemplado no décimo oitavo mês, quando havia pago, até ali, R$ 7.936,86.

Com a carta de crédito em mãos, ele anuncia que deseja vendê-la. Quem a compraria? Alguém que esteja precisando dos R$ 55 mil, tope pagar as prestações restantes e aceite pagar um ágio para obter esse dinheiro. Mas quanto ele pagaria de ágio? Segundo tenho lido sobre o assunto – e repito, jamais fiz isso e  não estou recomendando que ninguém o faça – a fórmula de cálculo desse preço é a seguinte:

Valor de venda = (Valor do crédito / 2 + Prestações pagas) / 2

No nosso exemplo:

Valor de venda = (55000/2 + 7936,86)/2 = R$ 17.718,43

Ou seja, o consorciado poderia vender sua carta de crédito, que obteve por R$ 7.936,86, pelo valor de R$ 17.718,43 – 123,24% de lucro no período total, ou 4,56% ao mês, se a venda ocorrer no 18º mês, logo após a contemplação.

Parece bom demais para ser verdade, e há boas razões para acreditar que este seja o caso. Mas, repito, não tenho experiência com o assunto e não estou recomendando que ninguém o faça. Por que acredito que não é esse o caso? Em primeiro lugar, porque procurei anúncios de quem esteja vendendo cartas de crédito contempladas, na internet, e não encontrei muita coisa sobre o assunto – só encontrei alguns sites que anunciam essa estratégia. Ou seja, parece algo de “sociedade secreta”, coisa que só os iniciados sabem onde encontrar. Até liguei em algumas instituições que operam consórcio, e ninguém soube falar sobre isso.

Ou seja, pode ser difícil encontrar quem esteja disposto a comprar cartas de crédito contempladas – e, mais ainda, pode ser complicado encontrar quem esteja disposto a pagar tanto a mais pela carta de crédito. Mesmo que seja possível encontrar alguém que queira pagar um ágio, o comprador pode simplesmente querer dar um valor apenas moderadamente acima do pago em investimentos em renda fixa.

Mas, como eu disse, essa é apenas a minha impressão, e não quero convencer ninguém a partir dela. Mas, como alguns leitores já me mandaram e-mails sobre o tema, resolvi escrever sobre o assunto. Se você já teve experiência com esse tipo de negociação, não deixe de comentar aqui. Decerto, será muito útil e instrutivo.

O que eu acho de consórcios em geral? Pode ser um bom negócio, mas apenas pra quem tem paciência para esperar ser sorteado ou bala na agulha para oferecer um lance antecipadamente. Confiar na sorte não é bom.