sábado, 20 abril, 2024 10:23

MATÉRIA

Maternidade e obesidade não devem andar juntas

Enfermidades como diabetes gestacional e hipertensão são comuns em gestantes obesas. Além dos riscos a própria saúde, a obesidade coloca em risco também a vida do feto.

Se os muitos quilos extras já são uma fonte de preocupação para as mulheres em geral, quando elas decidem ser mães, isto pode perturbá-las ainda mais. De acordo com o ginecologista obstetra Waldemar Naves do Amaral, que está elaborando um livro sobre o assunto, o primeiro problema que a mulher obesa enfrenta é justamente as chances reduzidas de engravidar. “As mulheres que estao acima do peso, tem cerca de 50% a menos de chances de engravidar do que as mulheres férteis com peso considerado saudável”, afirma. Em seguida, vem o risco de aborto, que também representa 50% a mais.

Vencida esta etapa, as complicações que ocorrem comumente no pré-natal colocam em risco a vida da mãe e do feto. “A maioria das gestantes obesas desenvolvem doenças metabólicas, como diabetes gestacional, hipertensão e pré-eclâmpsia, que pode causar danos renais e cerebrais e até chegar à convulsão cerebral”, descreve Waldemar do Amaral. Pesquisa da Universidade de Edimburgo, na Escócia, feita em 2011, mostrou que mais de um terço dos óbitos relacionados à gestação correspondem a mulheres obesas. Além disso, são elas as mais acometidas por desconfortos típicos do período, como mal-estar e inchaço.

De acordo com outro estudo, este publicado na revista científica British Journal of Obstetrics and Gynaecology, a obesidade aumenta em 10 vezes o risco de a gestante ter infecções respiratórias e duplica o de sofrer com dores de cabeça e azia. O estudo mostrou também que são triplicadas as probabilidades de desenvolver a síndrome do túnel do carpo (STC), uma doença caracterizada pelo inchaço no pulso, dormência, dor, enfraquecimento e até falta de coordenação nas mãos. “Sintomas podem ou não estar relacionados a problemas mais sérios. O fato é que eles impactam diretamente a qualidade de vida da gestante”, alerta Waldemar. Com isso, a quantidade de exames que a grávida obesa deve realizar também é bem maior. “Podem ocorrer alterações nos lipídios, então será necessário um acompanhamento constante com exames como lipidograma, doppler, ultrassonográfico, perfil biofísico fetal, assistência multiprofi ssional, com endocrinologista, já que o diabetes pode gerar complicações, e com cardiologista, tendo em vista que a hipertensão está presente em mais de 90% das grávidas obesas e ainda mais consultas com o ginecologista obstetra”, enumera o médico. “O custo com a saúde torna-se significativamente mais alto”, completa.

Para o feto, a obesidade da mãe pode levar à denominada insuficiência placentária, o que significa menos oxigênio na placenta e provoca restrição de crescimento e baixo peso. Quando isso acontece, há risco de morte fetal e pode ser necessário retirar a criança prematuramente para que isso não venha a ocorrer. “É alto o índice de prematuridade e, mesmo quando a gestação vai a termo, é bastante comum a permanência do recém-nascido em UTI por alguns dias ou até meses”, relata o ginecologista obstetra. E depois de tudo isso, ainda tem a hereditariedade e os hábitos alimentares nocivos, que farão com que a criança também seja obesa. “Geralmente, quando a mãe é obesa, o pai também é, assim como todos os filhos, porque ela é quem prepara as refeições. É preciso mudar os hábitos alimentares de toda a família para conseguir reverter esta situação e viver com mais saúde”, aconselha.