quarta-feira, 24 abril, 2024 05:15

MATÉRIA

Não faça dieta, mude sua relação com a comida

Quando você pensa em comida ou no seu apetite, costuma se sentir triste ou culpado? Tem medo de escolher uma comida considerada ruim, que “engorda”, ou comer algo que chamam de “besteira” e “porcaria”? Detesta quando sente fome, pois acredita que não deveria ter tanta vontade de comer? Imagine a ideia de comer qualquer coisa que goste e tenha vontade, no momento que quiser. Parece loucura? “Imagine a ideia de comer qualquer coisa que goste e tenha vontade, no momento que quiser. Parece loucura?”

Uma ideia impossível? Eu sei, também já me senti assim. A possibilidade de não estar de dieta ou seguindo um plano alimentar e controlar tudo o que a gente come realmente pode parecer estranha e assustadora.

Porém, entre nutrientes, horários, quantidades, pesos e regras, o foco principal das dietas sempre é nos dizer o que não comer. Muitos de nós, de tanto ouvir e ler sobre isso, já temos bem claro na mente quais são os alimentos “bons/certos” e os “ruins/errados”, o que “pode” e o que “não pode”.

PRIVAÇÃO DAS DIETAS GERA EXAGERO E CULPA NA ALIMENTAÇÃO

Mas a verdade é que nós também queremos comer aquilo que a dieta proíbe! O que acontece, então? A lógica das dietas faz com que a gente acredite que não sabe o que comer, que só conseguimos fazer escolhas “erradas” e, então, nós acabamos por julgar nossas vontades como erradas também, evitando atendê-las. O nome disso é privação.

E a privação, infelizmente, anda de mãos dadas com o exagero e a culpa. Quando estamos de dieta e resolvemos comer algo que não se encaixa nas regras, ficamos com a ideia: “ah, já estraguei tudo mesmo, então tanto faz”. Com isso, acabamos comendo em excesso todo tipo de alimento que a dieta exclui.

Este comportamento de comer em excesso leva a uma grande culpa no dia seguinte, todos os pensamentos de fracasso voltam e a tendência é entrar numa dieta ainda mais rígida e restritiva. Não preciso nem contar o que acontece depois, não é? As vontades e os desejos reprimidos voltam com força total ao menor sinal de deslize e permissão, e o corpo novamente quer comer em excesso tudo aquilo de que foi privado.

10 PASSOS PARA CONHECER MELHOR SUA RELAÇÃO COM OS ALIMENTOS

Talvez você não perceba, mas isso tudo pode estar acontecendo agora mesmo na sua vida. Quando foi a última vez que você parou para realmente pensar na sua alimentação? Não para descobrir uma dieta nova ou considerar o quanto de carboidrato estava comendo, mas realmente refletir sobre a sua relação com os alimentos?

Bom, como nós só podemos mudar aquilo de que temos consciência, tem um experimento abaixo com o objetivo de fazer com que você pense melhor em tudo isso! A proposta é a seguinte:

• 1 Faça uma lista de comidas que você adora, mas que evita ou sente culpa ao comer.

• 2 Selecione uma dessas comidas para fazer essa atividade. Esteja atento aos seus desejos e vontades reais – que alimento você realmente gostaria de comer agora? É doce, salgado, quente, frio, crocante, cremoso…? Essa comida lhe traz alguma memória ou sentimento? É algo que você já não se permite comer há muito tempo?

• 3 Fique atento para o caso de surgirem pensamentos lhe dizendo que sua escolha é de uma “comida ruim”, ou se começar a julgar detalhes como calorias, quantidade de carboidratos ou de gorduras. Não siga esses pensamentos, permita-se escolher o que você realmente tiver vontade.

• 4 Aguarde o momento em que realmente estiver com vontade e compre ou prepare uma porção individual da comida que você escolheu.

• 5 Escolha comer num ambiente calmo, sem distrações, e sozinho. Dê a este momento sua atenção total.

• 6 Quando estiver com a comida, dedique um tempo a admirá-la, aproveitando sua aparência, seu aroma, sua textura ao toque.

• 7 Tente pensar nas razões pelas quais você escolheu esse alimento. Existe algum pensamento de culpa ou proibição envolvendo ele? Tem muito tempo desde que você o comeu? Ou você tende a exagerar quando escolhe comer algo assim? Reflita sobre sua relação com essa e outras comidas de que gosta.

• 8 Então, dê a primeira mordida e mastigue lentamente, observando com atenção os aromas e sabores do alimento. A cada mordida, faça novamente este exercício e fique atento à sua vontade de continuar comendo e ao prazer obtido com esta experiência.

• 9 Quando terminar, observe como está se sentindo. Aconteceu como você estava imaginando? Você ficou feliz em comer este alimento? A última mordida foi tão saborosa quanto a primeira? Você estava com vontade de comer a porção inteira? Você gostaria de comer este alimento mais vezes? Notou alguma diferença entre esta experiência e a forma com que come normalmente alimentos “proibidos”? Está se sentindo mal depois por não poder comer sempre os alimentos que gosta? Pense sobre todas as percepções que teve com este exercício, boas e ruins.

• 10 Se teve alguma dificuldade, ou mesmo se não conseguiu realizar o experimento, pense nas razões para isso ter acontecido. Quais pensamentos você teve em relação à comida? Sentiu culpa por suas vontades ou preferências? Sentiu culpa quando estava comendo? Teve vontade de comer mais do que escolheu ou mesmo de exagerar? Fique à vontade para aplicar este exercício com outros alimentos da lista que você fez, prestando atenção em como seus pensamentos e reações se comportam em cada momento.

É importantíssimo saber fazer escolhas saudáveis na alimentação. É ótimo optar por alimentos e ingredientes de qualidade. É recompensador investir um tempo na cozinha para preparar uma refeição nutritiva e saborosa, só porque você merece. Mas, acima de tudo, é vital fazer isso por uma escolha própria, para cuidar de si, e não porque tem alguém dizendo que você é um ser humano terrível se não fizer. Além disso, é libertador ter o direito de não fazer nenhuma dessas coisas sem se odiar, sem se julgar uma pessoa ruim ou se culpar. Acreditar nesses julgamentos negativos é aceitar a culpa e a vergonha e, consequentemente, criar um comportamento alimentar conflituoso.

Sendo assim, experimente dar a si mesmo a permissão para comer de forma livre, seguindo seus conhecimentos, vontades e fome. A total liberdade alimentar vai fazer com que você pense muito melhor nas suas escolhas, ao invés de só seguir o que outra pessoa mandou. Afinal, é você quem estará no controle e a responsabilidade será sua. Parece uma tarefa bem assustadora a princípio, mas garanto que também é recompensadora e que vale muito a pena. Que tal recuperar o poder sobre a sua alimentação e sobre o seu corpo?