quinta-feira, 25 abril, 2024 03:46

MATÉRIA

COMBATE AO RACISMO

Admitir que existe racismo, ainda é um tabu para uma grande parcela da sociedade. As pessoas desconhecem conceitos e não se atentam para o problema, reproduzindo, enquanto instituições ou individualmente, ações discriminatórias.

Apesar do desconhecimento, os números não mentem e trazem à tona que precisamos tomar medidas em prol da igualdade racial.

Uma das principais ferramentas contra a discriminação racial é a informação. Pessoas não negras bem informadas podem se tornar grandes aliadas no combate ao racismo. Além disso, empresas mais conscientes melhoram sua tomada de decisão, seja de contratação ou de desenvolvimento de talentos.

Pensando nisso, criamos este glossário com alguns dos principais termos para equidade étnico-racial.
Confira!

Etnia e Raça

Etnia: “é um conceito sócio-cultural, histórico e psicológico.” Ou seja, um conjunto de pessoas que compartilham do idioma, estão no mesmo espaço geográfico ou possuem a mesma fé ou cultura ou cosmovisão formam etnias. Menos marcada pelas características físicas e mais pelo conjunto de costumes.

Raça: já o conceito de raça é morfo-biológico, e ao longo dos séculos formou o conjunto populacional dito raça “branca”, “negra” e amarela”. Diz respeito ao conjunto de hábitos, crenças e comportamentos compartilhados por meio de pessoas que também possuem características físicas semelhantes, geralmente expressadas pela cor.

Discurso de ódio
O que é discurso de ódio: costuma ser definido como manifestações que atacam e incitam ódio contra determinados grupos sociais baseadas em raça, etnia, gênero, orientação sexual, religiosa ou origem nacional.

Claro que a liberdade de expressão é um direito humano fundamental garantido pela Constituição Brasileira, mas isso não significa que qualquer pessoa possa falar qualquer coisa por aí. A liberdade de expressão termina se ela coloca em risco a liberdade de outra pessoa,
e esse é o caso do discurso de ódio.

Racismo

O que é racismo: está previsto na Lei n. 7.716/1989 e diz respeito a uma conduta discriminatória dirigida a determinado grupo ou  coletividade. A lei de racismo enquadra uma série de situações como: recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o acesso às entradas sociais em edifícios, discriminar nas relações de emprego, entre outros.

Conceitualmente, o racismo é mais amplo do que a injúria racial (está prevista no Código Penal e consiste em ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem), pois ele visa atingir uma coletividade indeterminada de indivíduos,
discriminando toda a integralidade de uma etnia e uma raça.

As pessoas e as instituições devem reconhecer a existência do racismo para assim avançarmos enquanto uma nação que desmistifica o mito da democracia racial (a crença de que nós, por sermos um país diverso e miscigenado, não somos um país racista e conseguimos transcender os conflitos raciais). Os EUA e a África do Sul deram importantes passos para isso no passado, ao acabar com a segregação e com o Apartheid, além de criar as ações afirmativas.

Mas isso não quer dizer que o racismo acabou, ele apenas deixou de ser explícito e tornou-se implícito. Basta fazer o chamado “teste do pescoço” e olhar ao redor para ver que, apesar de negros constituírem a maioria da população — 54% dos brasileiros se autodeclara preto ou
pardo —, sua presença é minoria nos espaços de poder, como universidades, espaços culturais, restaurantes e até mesmo o seu local de trabalho.

Racismo Institucional

O que é racismo institucional: é basicamente o tratamento diferenciado entre raças no interior de organizações, empresas, grupos,  associações e instituições congêneres – segundo este artigo do Geledés. Ivair Augusto Alves dos Santos, no livro Direitos Humanos
e as Práticas de Racismo diz:
“Há racismo institucional quando um órgão, entidade, organização ou estrutura social cria um fato social hierárquico – estigma visível, espaços sociais reservados –, mas não reconhece as implicações raciais do processo.”

Segundo o Instituto Ethos, há três tipos de discriminação racial sofrida pelos negros no mercado de trabalho:

• Discriminação ocupacional: é o questionamento da capacidade do negro de executar tarefas mais complexas. Mesmo que esteja capacitado como os demais, o negro é vetado ou restringido de tarefas mais complexas.
• Discriminação salarial: ocorre pela desvalorização do trabalho exercido pelo aspecto étnico-racial, de forma a atribuir, por exemplo, remunerações inferiores a negros.
• Discriminação pela imagem: é a busca pela criação de um padrão de ideal estético de funcionários e prestadores de serviços. Assim, traços fenotípicos de diferentes etnias e raças são excluídos ou repreendidos em ambientes profissionais.

Racismo

O que é Racismo: No dicionário, racismo é definido como um comportamento hostil dirigido às pessoas ou aos grupos sociais que pertencem a outras raças e/ou etnias. É, ainda, uma reunião dos conceitos que afirma existir uma hierarquia entre etnias e/ou raças. De modo mais amplo, racismo tem a ver com poder e privilégios.

Ele se manifesta quando as pessoas agem em relação a outras pessoas tendo por base a ideia de que uma raça é inerentemente superior à outra. Isso, claro, não surgiu do nada. No Brasil, o racismo está intimamente relacionado ao processo de escravidão e às suas consequências que resultaram em um sistema de opressão no qual um grupo detém poder, privilégios, e nega estes mesmos direitos a outros. Este processo deu origem a uma pirâmide social na qual o homem branco está no topo, seguido pela mulher branca, o homem negro e, por último, a mulher negra. E é essa estrutura que perpetua o racismo.

Racismo Estrutural

O que é racismo estrutural: o conceito que fala sobre como o racismo se estrutura na sociedade. A nossa estrutura é, essencialmente, racista. No Brasil, o racismo é a regra e não a exceção. O racismo está presente nas nossas relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares. E, em todas elas, pessoas brancas ocupam um espaço de poder, de tomada de decisão e de superioridade em relação aos negros e indígenas.

Na prática, o racismo estrutural significa que o racismo está presente no nosso cotidiano e muitas vezes de maneiras quase imperceptíveis, como, por exemplo:
• Quando não encontramos pessoas negras em cargos de liderança;
• Quando vemos que negros (mesmo quando ocupam os mesmos cargos) ganham 30% a menos que os brancos ou;
• Ao vermos uma mídia quase 100% branca em um país de maioria negra, ou;
• No preconceito em relação às religiões de matriz africana, ou;
• Quando automaticamente um homem negro se torna sinônimo de perigo e acaba sendo vítima de violência, como aconteceu com o George Floyd.

Então, podemos entender que o racismo se dá tanto por comportamentos individuais racistas, quanto por processos institucionais (dentro das nossas instituições) que não impedem que ele aconteça, retroalimentando essa nossa estrutura social desigual e discriminatória.

Racismo Ambiental

O que é racismo ambiental: injustiças sociais e ambientais que atingem grupos étnicos mais vulneráveis e outras comunidades,  discriminadas por sua ‘raça’, origem ou cor.

“Racismo ambiental” é um termo cunhado em 1981 pelo Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr, líder negro pelos direitos civis, a partir de suas investigações e pesquisas entre a relação de resíduos tóxicos e a população negra norteamericana.”

Representatividade

O que é representatividade: Os nossos vieses inconscientes e o próprio racismo estrutural fazem com que tenhamos uma baixa representatividade da população negra nos espaços de poder, de liderança, de comunicação (propaganda, mídia), dentre outros. Com isso torna-se importante falar sobre representatividade, que é, segundo Jordão Farias neste artigo, o “ato de sentir-se representado, por alguém ou movimento mais influente, geralmente nas grandes mídias. Representatividade é, também, a qualidade de nos sentirmos representados por um grupo, indivíduo ou expressão humana, em nossas características, sejam elas físicas, comportamentais ou socioculturais. É
por meio desta qualidade que nos sentimos parte de um grupo, pertencentes a ele, compartilhando experiências, impressões, sentimentos e pensamentos com seus membros”.

Apropriação cultural

O que é apropriação cultural: Além de não estarem devidamente representados, muitas vezes a comunidade negra acaba sendo vítima de um processo de apropriação cultural, que é o ato de se apropriar de elementos de uma outra cultura da qual não pertence, desconsiderando os significados e tradições que o permeiam. Isto pode partir de um indivíduo ou da indústria.

É quando uma cultura (ou grupo) dominante utiliza símbolos, artefatos ou defende valores de uma cultura minorizada e usa esses elementos esvaziados de significado. E pior: sem dar o crédito apropriado ou abrir portas para as pessoas dessa cultura. Isso gera um apagamento de quem nunca se viu representado e vê sua cultura ganhando proporções maiores, mas com outro protagonista.

Dororidade

Se você procurar essa palavra nos dicionários, não irá encontrar. O próprio Google sugere a correção para sororidade e os editores de texto sugerem que existe o erro ortográfico.
Os termos possuem correlação mas são bem diferentes.
No livro Dororidade, a autora Vilma Piedade aborda um feminismo com sororidade – irmandade entre as mulheres – que entende e acolhe a luta da mulher negra que além de sofrer machismo, também sofre a dor do racismo.
O que é dodoridade: enquanto sororidade é a relação de irmandade entre mulheres, dodoridade é a cumplicidade entre mulheres negras, que compartilham dores específicas da experiência vivida e da luta que as une através da cor.

O conceito de dororidade é importante porque inclui a perspectiva de classe e interseccionalidade associados ao “ser mulher”. Ou seja, ele mostra que a sororidade também precisa se relacionar com a dor que mulheres trans sentem com a transfobia, que mulheres quilombolas, nordestinas e ribeirinhas sentem com a xenofobia, etc.
Essa questão da interseccionalidade e a diferença nas lutas compartilhadas especificamente por mulheres negras se baseia na realidade brasileira, está pautada em dados (apesar de ainda não serem muitas as pesquisas que cruzam diferentes perspectivas, como raça e gênero):

Branquitude

O que os brancos de um país racista podem fazer pela igualdade além de não serem racistas? O primeiro passo é reconhecer os seus privilégios como pessoa branca.
Diferentemente dos negros, que precisam lidar com questões raciais desde pequenos, os brancos não costumam enxergar sua própria raça – ou etnia. A branquitude é naturalizada, percebida como padrão, como algo universal.
Para os brancos, quem tem raça são os outros. Mas, afinal, o que é branquitude?

O que é branquitude: O livro “Branquitude: Estudos sobre a Identidade Branca no Brasil” escrito por Tânia M. P. Müller e Lourenço Cardoso explica que “a branquitude significa pertença étnico-racial atribuída ao branco. Podemos entendê-la como o lugar mais elevado da hierarquia racial, um poder de classificar os outros como não brancos, que, dessa forma, significa ser menos do que ele. O ser-branco se expressa na corporeidade, a brancura. E vai além do fenótipo. Ser branco consiste em ser proprietário de privilégios raciais simbólicos e materiais. Isso quer dizer que, mesmo que a pessoa branca não seja racista, ela acessa as vantagens da branquitude. Mas também que, por não ser uma “escolha” individual, ela pode lutar contra isso.

Fonte: https:blend-edu.com