quinta-feira, 28 março, 2024 08:54

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Ghosting: o término repentino, sem explicações!

Um relacionamento que acaba de repente, sem explicações e te deixa sem saber o que aconteceu. Assim é o Ghosting, expressão adotada para representar o comportamento de alguém que resolve encerrar uma relação sem qualquer tipo de conversa ou aviso, apenas cortando todo o contato e evitando a outra pessoa.

O termo vem da língua inglesa e é derivado da palavra “ghost”, em tradução literal, fantasma. A nomenclatura vai direto ao ponto: quando uma pessoa pratica o ghosting, ela desaparece misteriosamente, tal qual um fantasma. A situação também pode acontecer em diferentes tipos de relações – namoros longos, amizades e até casamentos -, mas, é mais comum em relacionamentos amorosos recentes.

“A pessoa que pratica o ghosting geralmente tem uma tendência a procurar relacionamento superficiais e rápidos, evita situações de conflito e tem dificuldade em assumir relacionamentos longos e duradouros”, comenta a psicóloga clínica Daniela Knapp Vargas.

Quando uma das partes do relacionamento desaparece, a outra pessoa fica desamparada: ela precisa lidar sozinha com o fim de um relacionamento que acabou sem avisos e sem que ela ficasse sabendo as razões para que aquilo acabasse. Se enfrentar um término já é complicado, passar por uma situação dessas pode deixar marcas ainda mais profundas.

“O ghosting pode causar muito sofrimento para a pessoa. A sensação de dúvida e questionamentos sobre si persistem e os fantasmas da insegurança são um tormento. A pessoa pode deprimir-se e sentir-se apática e melancólica, inútil e ultrajada”, aponta o psicólogo Breno Rosostolato.

Já Daniela destaca que a vítima de ghosting também pode sofrer abalo de autoestima e ter dificuldades futuras de se envolver em novos relacionamentos. Além disso, a psicóloga ressalta que a vítima não é a única a ter sequelas: “para aquele que praticou o ghosting também existem consequências, pois terá que lidar com a preocupação, com o remorso e com a culpa de ter terminado um relacionamento dessa maneira”, afirma.

Como identificar o ghosting:  “É difícil descrever sinais porque o ghosting pode acontecer em diversas situações, com diferentes tipos de pessoas”, aponta Daniela. Ainda assim, certos comportamentos e contextos podem indicar uma situação de ghosting. Confira:

1) Interrupção de toda forma de contato: A primeira forma de perceber o ghosting é se a pessoa sumir completamente. Toda forma de contato é interrompida: você não consegue encontrá-la pessoalmente, ela não atende ligações, não responde mensagens.

Isso pode acontecer de uma hora para outra – e é o que frequentemente acontece. A pessoa cessa a comunicação sem manifestar problemas, incômodos ou qualquer outro sinal de descontentamento com o relacionamento.

2) Exclusão nas redes sociais: Junto ao corte do contato vem a exclusão nas redes sociais. Se a tecnologia facilita a comunicação e ajuda a aproximar, no ghosting a pessoa busca interromper também essas ligações. Assim, ela desfaz amizade no Facebook, deixa de seguir no Twitter e no Instagram, bloqueia seu endereço de e-mail e seu contato no WhatsApp, exclui fotos suas que foram publicadas em qualquer meio.

3) O motivo para o sumiço não é explicado: Com o repentino desaparecimento da pessoa e corte de qualquer forma de contato a possibilidade de perguntar a razão é anulada. Assim, a pessoa que é “ghosted”, ou seja, aquela que sofre o abandono, fica sem saber o que aconteceu ou o que levou ao fim do relacionamento.

4) Medo de relacionamentos sérios ou rejeição: Segundo Daniela, pessoas que têm dificuldade em assumir relacionamentos sérios ou têm medo de serem rejeitadas podem cair no ghosting. “Algumas pessoas quando percebem que o relacionamento não está indo muito bem ou pensam que o outro vai terminar o relacionamento, simplesmente somem para evitar a situação de serem rejeitadas. Assim, preferem dar um fim no relacionamento antes que o outro termine. Outras estão acostumadas a envolvimentos superficiais e no momento em que precisam assumir um compromisso de namoro, noivado e casamento, se assustam e acabam terminando antes da relação se aprofundar”, explica a psicóloga.

Vale ressaltar que o ghosting acontece quando o contato é interrompido conscientemente por um dos envolvidos na relação. O indivíduo toma a decisão de desaparecer e de não mais comunicar-se com a outra parte. Casos em que a comunicação não é possível por fatores exteriores não configuram ghosting.

Como lidar com o ghosting: Uma vez que o ghosting é identificado em uma relação, enfrentar a situação se faz necessário. Esse tipo de término afeta as pessoas de formas diferentes e pode ser especialmente complexo para pessoas emocionalmente frágeis.

“Em um primeiro momento, a pessoa terá a tendência de negar o ocorrido e achar que o outro perdeu o celular ou não está conseguindo se comunicar. Quando ela se conscientiza do que aconteceu terá que lidar com a dor do fim do relacionamento sem ter muitas explicações”, aponta Daniela.

Cada um tem uma forma diferente de superar o fim de um relacionamento, inclusive em caso de ghosting. Mesmo assim, alguns passos gerais podem ajudar e fazer com que o processo seja mais fácil. Confira:

1) Aceitar o término: “Primeiramente, a pessoa deve aceitar o término e assumir que talvez nunca terá o término que ela imaginou para esse relacionamento”, pontua a psicóloga.

Se você identificar o comportamento de ghosting em um relacionamento, é preciso aceitar que esse é o fim. Ter que assimilar um final assim é frustrante, mas apenas admitindo o término é que você pode começar a seguir em frente. Procure se livrar das expectativas de que a pessoa volte a aparecer para dar explicações, de que a relação está “suspensa”.

2) Parar com as tentativas de retomar contato: Parte de aceitar o término é parar com as tentativas de retomar o contato interrompido. Continuar procurando permanentemente por alguém que não quer conversar pode te prender na situação, tornando a superação ainda mais difícil.

Uma boa dica é estabelecer um limite de tempo ou de número de tentativas para a comunicação e, caso não tenha resposta alguma, encerrar as chamadas. Pare de telefonar, mandar mensagens e até de verificar as redes sociais da pessoa ou de fazer perguntas a amigos e conhecidos.

3) Evitar procurar respostas e justificativas: Quando o ghosting acontece a pessoa fica no escuro, sem saber o que desencadeou o sumiço da outra. E, como não existe mais contato com a outra parte, não há como saber o que, de fato, fez com que ela terminasse o relacionamento desse jeito.

Portanto, evite prender-se na busca por motivos que possam justificar o que aconteceu: isso só vai levantar uma série de hipóteses e dúvidas que não podem ser respondidas ou comprovadas e que, muitas vezes, não correspondem à realidade.

4) Não assumir culpas: É importante lembrar que a culpa não é sua; portanto, evite encontrar em você motivos que poderiam desencadear o desaparecimento da outra pessoa. “Procure compreender por que o outro fez isso e entenda que este comportamento está relacionado a questões pessoais dele e não em você. Tenha discernimento de saber o que é seu e o que é do outro. Não absorva as limitações e dificuldades do ex”, aconselha Breno.

5. Trabalhar a autoestima: Muitas vezes as vítimas de ghosting sofrem abalo na autoestima e buscar melhorias nesse aspecto pode ser de grande ajuda para superar a situação. “Resgate a autoestima e valorize a si mesmo. Aposte em atividades que goste de fazer e foque em outros aspectos da vida”, sugere Daniela. Assim, tente concentrar-se em coisas que te façam bem, dedique-se a seus hobbies favoritos e volte sua atenção às pessoas queridas que fazem parte da sua vida.

Fiquei de luto por alguém que ainda vive, mas que escolheu me excluir de sua vida. Eventualmente aceitei que essa foi a decisão dela, mesmo sem saber o porquê, e segui adiante. Foi traumático, mas não foi uma escolha minha. Só me restava aceitar. (A.D., 27 anos)

Desejar uma forma de se proteger para não vivenciar essa situação é natural, mas os profissionais deixam claro que não é possível prevenir o ghosting; afinal, não há como prever ou controlar as ações de outra pessoa. Ainda assim, manter um diálogo aberto e transparente desde o início é importante para a saúde do relacionamento.

“O diálogo é importante. Conversar e ser sincero expondo aquilo que gosta e não gosta. Cada um deve respeitar sua individualidade, mas principalmente, respeitar os limites e opiniões do outro. Desmistificar expectativas e idealizações é necessário para minimizar frustrações e decepções”, sinaliza Breno.

Manter uma comunicação franca entre ambas as partes vai ajudar a perceber se vocês estão na mesma página, se querem e esperam as mesmas coisas do relacionamento. Refletir e questionar a si mesmo quanto a que tipo de relação deseja e com quem vai compartilhar isso também faz parte do processo.

“Pessoas que sofreram muitas vezes a experiência de ghosting precisam ficar alertas. É necessário, nesses casos, uma reflexão mais profunda sobre suas escolhas, uma vez que estão repetindo o mesmo padrão prejudicial de relacionamento”, indica Daniela.

Mesmo com todos os cuidados, o ghosting pode acontecer. Lembre-se de que, no fim das contas, o comportamento da outra pessoa não está em suas mãos e, por isso, você não deve assumir culpas caso isso aconteça.