sexta-feira, 29 março, 2024 10:21

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Hanseníase – no Brasil e no Mundo: A Doença e a Cura

Você sabia que o Brasil está em segundo lugar no mundo (com a Índia em primeiro) com o maior número de casos novos de hanseníase no mundo? Muitos brasileiros conhecem alguém que teve esta doença ou sabiam dos muitos hospitais-colônias onde as pessoas foram isoladas durante grande parte do século vinte.  Hoje, a hanseníase é uma doença curável, com tratamento gratuito disponível no mundo inteiro.  Se for diagnosticado e tratado precocemente, a hanseníase não resulta em incapacidades ou em problemas de longo prazo.

Antigamente no Brasil, a hanseníase foi chamada de “lepra,” mas nos anos noventa do século vinte, uma lei foi aprovada no Brasil que proibiu o uso desta palavra (e a palavra “leproso”) em publicações da mídia por causa das associações estigmatizantes da palavra e do fato de que o termo poderia ser aplicado a uma variedade de doenças. A hanseníase é causada por infecção pelo bacilo Mycobacterium leprae, usualmente transmitido entre pessoas através da via respiratória. A maioria das pessoas, provavelmente 90-95% da população do mundo, têm uma imunidade genética ao bacilo e não podia contrair a doença mesmo sendo exposta. Não é altamente contagiosa, e os especialistas acreditam que o contato prolongado com uma pessoa, como numa situação de contato do agregado familiar, é necessário pra a transmissão. Recentemente, pesquisadores nos Estados Unidos descobriram que os tatus podem carregar e transmitir a doença aos seres humanos. Alguns casos de hanseníase em pessoas nos estados do sudeste dos Estados Unidos têm sido associados a contato com os tatus.

Você não pode pegar a hanseníase do contato casual com uma pessoa que tem a doença, por exemplo, só abraçando a pessoa ou apertando as mãos. Mesmo entre os contatos da família, não é necessário para as pessoas afetadas pela doença se isolar ou separar as coisas pessoais. Logo depois do início do tratamento, 24-48 horas do início do tratamento, uma pessoa com hanseníase para de transmitir a doença.

Sintomas Precoces

Os primeiros sintomas da hanseníase são leves e podem ser confundidos com sintomas de outras doenças como diabetes, vitiligo, reações alérgicas, e artrite. Um sintoma precoce é geralmente uma mancha avermelhada ou despigmentada na pele que não doi, não coça, e pode ter falta de sensibilidade. Às vezes não há lesões ou manchas na pele, mas danos nos nervos causados pela doença de bacilos de Hansen geralmente provoca dormência ou formigamento nas mãos e pés.  Muitas vezes as pessoas notam que ao tocar algo quente no trabalho ou na cozinha se queimam, mas não sentem dor. É importante procurar um diagnóstico precoce e, começar o tratamento para minimizar a possibilidade de incapacidades.

A Hanseníase no Brasil

Várias coisas, inclusive eventos da história do Brasil, a suscetibilidade genética do indivíduo e de certas populações, também determinadas condições de pobreza e desigualdade, têm contribuído para a existência da hanseníase no Brasil contemporâneo. Na época colonial, a doença estava presente em Portugal, bem como nas regiões da África do qual as pessoas foram levadas como escravos para o Brasil. É possível que as condições de escravidão no Brasil, incluindo a habitação de pessoas em senzalas, contribuiu para a propagação da doença. Migrações internas subsequentes e o crescimento das comunidades informais em áreas urbanas no século 20 contribuíram também.  Mesmo que a pobreza seja um fator na existência de hanseníase no Brasil, tem pessoas tanto no Brasil como no mundo todo, de todas as classes sociais, que são afetados ou que foram curados por hanseníase. A doença não discrimina rico nem pobre.

Durante grande parte do século vinte, as pessoas diagnosticadas com a hanseníase no Brasil foram isoladas de suas famílias. Em alguns casos, as crianças foram separadas dos pais; só recentemente, tem havido um movimento liderado pela organização MORHAN (Movimento de Reintegração das Pessoas atingidas por Hanseníase), para reunir famílias que foram separadas desta maneira. Há ainda 33 hospitais-colônias no Brasil, onde as pessoas que foram isolados no século passado as vezes escolham permanecer, embora sejam curadas, mas hoje, novos casos de hanseníase são tratados nos postos de saúde públicos, e as pessoas moram em suas próprias casas.  Geralmente, o tratamento requer 6 meses a 2 anos de poliquimioterapia (PQT), às vezes com acompanhamento médico depois de terminar o tratamento para evitar deficiência.

Acesso ao Tratamento para os brasileiros nos Estados Unidos

É importante para os brasileiros que vivem nos Estados Unidos saberem que, eles podem receber tratamento gratuito para a hanseníase, independentemente do seu status imigratório. Existem 17 clínicas ambulatórias para a hanseníase nos Estados Unidos, incluindo uma em Atlanta no Hospital Emory University Midtown. Os médicos e profissionais de saúde nessas clínicas podem administrar seu tratamento ou podem trabalhar com seu médico particular para seu tratamento.

Estigma

O desenvolvimento do estigma e dos preconceitos associados com a hanseníase vem em parte das associações da doença de Hansen com a “lepra” mencionada na Bíblia, mas também da política de isolamento de pessoas afetadas pela doença e também das potenciais consequências físicas da doença, antes do desenvolvimento de um tratamento adequado. O estigma associado com a doença hoje também pode ser ligado a medos associados com a imigração. Apesar da existência de informações amplamente disponíveis na internet, sobre a curabilidade da hanseníase, muitas pessoas, até mesmo muitos médicos e profissionais de saúde, pensam que hanseníase é altamente contagiosa. Se você é diagnosticado com hanseníase nos Estados Unidos ou se foi diagnosticado no Brasil e quer continuar o tratamento, o primeiro passo seria contatar um dos centros ambulatoriais, onde há especialistas que entendem a doença e também podem se aconselhar sobre o tratamento. Eles estão dispostos a falar com você e com sua família (se você quiser), para dar-lhes informações precisas sobre a doença e para explicar detalhes importantes sobre hanseníase.

Abaixo estão alguns contatos, caso você queira saber mais:

Atlanta Hansen’s Disease Clinic (Clínica de Hanseníase em Atlanta)

Emory Mid-Town Hospital

550 Peachtree Street NE

7th Floor MOT

Atlanta, GA  30308

PH:   (404) 686-5885 (404) 686-5885

Fax:  (404) 686-4508

Primary Physicians (médicos) – Dr. Jessica Fairley / Dr. Phyllis Kozarsky

email:  jessica.fairley@emory.edu

email:  pkozars@emory.edu

PH:   (404) 686-5885 (404) 686-5885

Public Health Nurse (enfermeira de saúde pública): Roberta Dismukes, RN

email:  roberta.dismukes@emoryhealthcare.org

PH:   (404) 320-7668 (404) 320-7668

PH:   (404) 686-7668 (404) 686-7668

Para os endereços de outras clínicas ambulatórias:

http://www.hrsa.gov/hansensdisease/ambulatoryclinics.html

Para mais informação em português sobre hanseníase:   

http://www.hrsa.gov/hansensdisease/pdfs/patientinformationportuguese.pdf

Contato do autor:

Dr. Cassandra White, Associate Professor of Anthropology

Department of Anthropology

Georgia State University

Atlanta, GA 30302

cwhite@gsu.edu

404-413-5150 or 678-358-2968