“Nas eleições municipais 2016 o destaque foi a decadência do Partido dos Trabalhadores – O PT de Lula e Dilma perdeu a confiança dos brasileiros”
As eleições municipais deste ano marcam o pior desempenho do PT nas capitais em pelo menos 20 anos. O partido dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff conquistou uma prefeitura no primeiro turno e terá a chance de somar outra na segunda rodada de votações. Na melhor das hipóteses, igualará a marca alcançada em 1996, quando venceu em Belém (PA) e em Porto Alegre.
Nessas duas décadas, a legenda viveu dois períodos distintos: ampliou o número de cidades administradas até 2004 e, depois disso, passou a perder terreno nos municípios mais importantes do país. O início da decadência eleitoral nesses redutos coincidiu com a eclosão do escândalo do Mensalão, em 2005, quando o então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) denunciou que o governo federal distribuía pagamentos mensais a deputados da base aliada para votarem de acordo com as orientações da gestão Lula.
Até Jefferson soltar sua bomba política, a bandeira vermelha vinha tremulando em paços municipais com frequência crescente. Das duas prefeituras conquistadas em 1996, saltou para seis quatro anos depois — entre elas Porto Alegre e São Paulo. Na eleição seguinte, em 2004, perdeu essas duas cidades, mas conquistou Belo Horizonte, um reconhecido ninho tucano. Além disso, espraiou-se pelo Norte e pelo Nordeste em municípios como Fortaleza, Recife, Aracaju e Rio Branco, totalizando nove mandatos.
O início das suspeitas de corrupção e a prisão de antigos ícones do partido, como José Dirceu e José Genoino, corroeram a base eleitoral petista. O número de capitais conquistadas encolheu para seis, depois para quatro, e agora tem apenas uma cidade garantida (Rio Branco, no Acre), e outra em disputa. Em Recife (PE), o candidato João Paulo foi para o segundo turno com 23,7% dos votos válidos, contra 49,3% de Geraldo Julio (PSB). Se não conseguir uma virada surpreendente, será o pior resultado do partido desde 1985, quando conquistou somente Fortaleza, no Ceará.
O cientista político e professor da UFRGS Gustavo Grohmann avalia que o Mensalão e as denúncias que se sucederam tiveram impacto significativo não apenas no eleitor eventual, mas na própria militância do PT — o que ajuda a explicar a substancial perda de força em antigos redutos como Porto Alegre.
— A partir de 2005, o desgaste em cidades como a Capital veio de dentro para fora, não de fora para dentro. A militância sentiu muito quando saíram as primeiras coisas envolvendo o Mensalão. Começou a haver um refluxo — analisa Grohmann.