sexta-feira, 19 abril, 2024 09:14

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As metrópoles globais onde viver já não é tão caro quanto antes

Um aumento do nacionalismo somado a uma queda do preço de petróleo no mundo inteiro resultou em mudanças significativas na economia global no último ano. Como resultado desses acontecimentos, alguns destinos que por muito tempo foram considerados os mais caros do mundo têm passado por uma diminuição no seu custo de vida.

Seja por causa de políticas internacionais, mudanças de importação ou exportação ou balanços de moeda, cidades como Londres – que recentemente votou para deixar a União Europeia na votação do Brexit – viram sua pontuação cair dramaticamente no Índice Anual de Custos de Vida da Unidade de Inteligência da revista The Economist.
E, desde que os valores das moedas caíram em relação a outras na maioria dos casos (e a taxa da inflação local geralmente aumenta bastante nesses momentos), são os expatriados empregados por empresas estrangeiras que se beneficiam ao máximo dessas mudanças nos custos de vida. Falamos com alguns residentes e expatriados vivendo nesses lugares para descobrir como as mudanças os afetaram e como poupar dinheiro nesses destinos, que de repente se tornaram mais acessíveis.

Londres
A votação do Brexit em 2016, que terminou com a saída da Grã-Bretanha da União Europeia, teve um impacto negativo imediato no valor da libra em comparação a outras moedas.
Tanto que Londres, que por muitos anos esteve no topo do índice de custos de vida, caiu 18 posições em apenas um ano. Turistas internacionais têm ido até a cidade para conseguir barganhas em itens de luxo e outras compras – uma estimativa apontou que o gasto de estrangeiros já aumentou mais de 36% em um ano.
Mas por causa da força das moedas estrangeiras em relação à libra, o custo dos bens importados aumentou, diz Ian Wright, fundador da companhia de mudança MoverDB.com. Especialistas preveem que importações importantes como frutas e legumes devem ter o preço aumentado em 8% como resultado do Brexit.
Ainda assim, há várias formas de viver de uma maneira acessível – e encontrar bons preços de imóveis está no topo da lista. Morar no sul e no leste de Londres geralmente é mais barato que no oeste ou no norte.
“O que é muito estranho em Londres é que você pode ter acomodações do Estado ao lado de casas de vários milhões de libras”, diz Wright, que é canadense. Wright vive no bairro de Abbey Wood, no sudeste de Londres, onde ele afirma que uma casa pode ser alugada por cerca de mil libras (R$ 4.170) por mês ou comprada por cerca de 325 mil libras (R$ 1,3 milhão).
“Não tem muita coisa acontecendo na região, mas as ruínas da Lesnes Abbey, do século 12, e muitos parques e florestas próximas podem ser aproveitados de graça”, diz.
Outras opções viáveis incluem lugares mais centrais como Leyton, perto do Parque Olímpico, no leste de Londres, e East Ham, ao sul de Leyton.
East Croydon, no sul de Londres, é uma área que também está sendo renovada e deve ter um shopping em breve – mas você ainda consegue achar um aluguel por 500 libras (R$ 2 mil) mensais. Enquanto o Reino Unido como um todo vive uma tendência anti-imigrantes, segundo Wright, ele garante que a capital do país ainda é bastante aberta e multicultural.
“Londres tem bem menos enclaves étnicos do que as cidades nos Estados Unidos, então você tem expatriados e imigrantes do mundo inteiro vivendo lado a lado, o que eu acredito que seja uma das melhores coisas da cidade.”

Pequim
Muitas cidades chinesas perderam mais de dez lugares nos rankings deste ano, incluindo Pequim, que caiu 16 posições.
O relatório não especulou as causas, mas fontes atribuíram a queda à diminuição da demanda por exportações chinesas e um valor menor do yuan em relação ao dólar. Como em Londres, viver confortavelmente depende de quão longe do centro você está disposto a viver: o aluguel de um apartamento de um quarto em Tongzhou, a 22 km a leste do centro, custa 2,5 mil (R$ 1.190) por mês.
“Mas a melhor escolha para um estrangeiro é achar um quarto um pouco perto do centro por cerca de 4 mil yuan (R$ 1,9 mil), o que você consegue nas partes descoladas da cidade perto de Sanlitun (9 km a nordeste do centro) e Gulou (5 km a norte do centro)”, diz Om Buffalo, um americano que mora em Pequim.
Em termos gerais, o sul e o oeste da metrópole são mais baratos que o norte e o leste.
Outras formas de poupar dinheiro é usando o metrô em vez de táxis.
“Para viagens de média ou longa distância, tomar um táxi em Pequim em geral leva mais tempo e custa muito mais caro que o metrô”, diz Josh Ong, diretor de marketing global e comunicações da empresa Cheetah Mobile, com sede em Pequim. “É um pouco assustador no começo, especialmente durante a hora do rush, mas com um pouco de pesquisa você pode aprender a se locomover.”
Outra sugestão dele é comer como um local usando o site dianping.com para achar os lugares onde quem é da cidade se alimenta. “Comida ocidental em Pequim é cara, mas há excelentes casas de noodles e de dumplings na sua esquina.”

Lagos
A maior cidade da Nigéria também perdeu 16 posições nos rankings devido à queda do preço do petróleo, uma das principais exportações do país.
Isso pode ser útil para empregadores externos, mas Hashim Zein, um embaixador da comunidade de expatriados InterNations e americano de origem, diz que isso pode criar desafios extras de segurança, já que a inflação da moeda aumentou os preços para os locais, o que pode levar a um aumento de roubos e crimes relacionados.
Porém, como dizem os moradores, um pouco de senso comum faz bem e isso não deveria impedir ninguém de viver ali.
“Eu me sinto em casa na Nigéria por causa da atitude das pessoas aqui. Um espírito de garra e resiliência, além de uma disposição para alegrar o outro sempre, não importa o quê”, diz Zein.
Além disso, a cidade sabe como se divertir. “Não há nenhuma festa como as de Lagos – sete dias por semana!” Lagos é dividida em duas grandes partes – o continente e a ilha (que na verdade são várias ilhas, separadas do continente pela Lagoa de Lagos). A maioria dos expatriados vive na ilha, incluindo no opulento bairro Victoria Island, a 17 km sul do centro e construído para expatriados britânicos durante a o período colonial.
Lekki Phase, uma cidade recém-construída e ainda em desenvolvimento, está a apenas alguns quilômetros depois da ilha.
Aqueles que trabalham com confecções tendem a ficar no continente, e Ilupeju (8 km a norte do centro) e Ikeja (15 km a norte) são algumas das melhores áreas para expatriados, de acordo com Zein, pela segurança, infraestrutura estável e localização perto de negócios que esses bairros oferecem.

Cidade do México
Elencada no 82º lugar entre as 132 cidades em 2017, a Cidade do México sempre foi relativamente acessível – mas também caiu nove posições no ranking deste ano.
Enquanto a moeda local enfraquece quando comparada à estrangeira, a inflação aumentou e os preços locais subiram um pouco, incluindo o aumento do preço da passagem de ônibus devido ao “gasolinazo”, o aumento do preço da gasolina que virou motivo de protestos em toda a cidade.
Por isso, é melhor usar o metrô do que o ônibus, diz Lauren Cocking, uma londrina que escreve um blog sobre viagem no México. E, embora ela dependa do transporte público e não do privado, recomenda o Uber para trajetos noturnos.
“Geralmente é mais barato que o táxi e mais seguro que o transporte público, especialmente tarde da noite.” Também é fácil poupar dinheiro ao comprar nos tianguis (mercados locais) ao invés dos grandes supermercados. “A diferença de preços é inacreditável”, diz Cocking. “A comida é minha parte preferida da vida aqui.”
Ela afirma que a maioria dos expatriados vai para os bairros de Roma ou Condesa, mas que eles não são representativos da energia da cidade.
“Minhas recomendações seria ir para bairros mais subestimados como Narvarte ou Del Valle (7,5 km e 9 km ao sul da cidade, respectivamente)”, exemplifica. “Eles são áreas residenciais mais locais e não sofrem risco de terremoto. O mesmo vale para bairros do sul da cidade como Copilco e Coyoacán (15 km e 12,5 km ao sul da cidade).”
“Coyoacán é um bairro colonial lindo com mais casas tradicionais, parques relaxantes e ruas quietas, além de uma praça central cheia de comida de rua deliciosa e entretenimento”, diz Natalie B, uma local da Cidade do México que trabalha para a empresa local de turismo My Local Cousin.
“Para aqueles que preferem uma experiência mexicana tradicional em um lugar mais residencial, La Narvarte é uma boa opção. O bairro foi construído nos anos 1940 até os 1970 e ainda tem muita arquitetura original, ruas silenciosas e uma atmosfera familiar.”

Buenos Aires
Depois de Londres, Buenos Aires teve a maior queda no índice, despencando 20 posições por causa da volatilidade econômica da Argentina.
Os locais estão acostumados com a flutuação de preços, diz Madi Lang, uma americana que viveu na cidade por 10 anos e toca o Buenos Aires Cultural Concierge. “A economia sempre é muito louca”, conta ela. “Eles conseguem levar numa boa – contanto que haja bife para o churrasco.”
Lola Black, uma guia de tango e embaixadora da InterNations, descreve a cidade como “urbana, mas descolada sem esforço e relaxada no estilo euro-latino”.
Para aproveitar ao máximo esse espírito, expatriados optam por viver em Puerto Madero, a 4 km ao sudeste do centro da cidade, uma região limpa e sofisticada que fica perto do mar, ou a histórica San Telmo, a 4 km ao sul do centro – ainda que a segurança seja uma grande preocupação ali. Os que vão à cidade em busca do famoso tango devem viver no bairro central Almagro, a 6 km a oeste do centro.
“É o bairro perfeito porque é supercentral. É perto da área descolada e turística de Palermo e tem um excelente acesso ao centro”, diz Lang. “Aqui nesta área há bares, restaurantes, milongas (clubes de tango), bares de música ao vivo e vida real de bairro.”
Muitas das atividades gratuitas e parques também fazem com que a cidade seja bastante acessível em termos de entretenimento.
“As centenas de praças e parques são perfeitos para passar uma tarde tomando mate, observando as pessoas e relaxando”, conta Lang. Seus locais preferidos são a Plaza Vicente Lopez, na Recoleta, o Jardim Rosedal Rode, no Parque 3 de Febrero, e o Parque Lezama, em San Telmo.