quinta-feira, 28 março, 2024 23:56

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Entenda: quem luta contra quem na Síria

Desde a explosão da violência na Síria, em março de 2011, a guerra passou por uma escalada até se converter em um complexo “todos contra todos” entre governo, rebeldes, radicais islâmicos e potências estrangeiras, que só se complicou com a entrada da Rússia no conflito.

Com o ataque em Paris que deixou ao menos 129 mortos no mês de Novembro, o confronto no país árabe atraiu a atenção da opinião pública após o presidente da França, François Hollande, ter dito que os atentados contra seu país foram planejados na Síria. Mas esse não é um conflito fácil de destrinchar. A começar pelos números impressionantes.

Mais de 200 mil pessoas morreram na guerra e, segundo cálculos da ONU, há até 4 milhões de refugiados: milhares deles protagonizam a mais recente crise migratória na Europa.

As tropas do presidente sírio, Bashar Al-Assad, lutam contra cerca de mil grupos rebeldes, que teriam 100 mil combatentes. Alguns com forte tendência extremista e com vínculos com a Al-Qaeda.

Desde o começo de 2014, entrou em cena o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico, enfrentando tanto o governo como os rebeldes, sejam radicais ou moderados.

Há ainda os Estados Unidos e seus aliados ocidentais, incluindo a França, e outros países com diferentes níveis de envolvimento: Irã, Turquia e nações do Golfo Pérsico.

E agora a Rússia, que iniciou uma campanha de bombardeios, segundo o Kremlin, contra posições do Estado Islâmico.

Entenda o xadrez e as peças desse conflito:

Estados Unidos

Opõe-se a: Bashar Al-Assad e Estado Islâmico (EI).

Apoia: grupos rebeldes considerados moderados e os curdos.

Em setembro de 2014, o presidente Barack Obama anunciou sua intenção de “degradar e, em última instância, destruir” o EI.

Assim começou uma campanha aérea no Iraque e na Síria, com apoio de Canadá, França, Reino Unido e vários países árabes.

Recentemente, em uma cúpula sobre terrorismo nos EUA, Obama enfatizou a necessidade da saída de Assad do poder como condição para derrotar o EI. Disse ser preciso “um novo líder e um governo de inclusão que una o povo sírio na luta contra grupos terroristas”.

Rússia

Opõe-se a: Estado Islâmico e outros rebeldes.

Apoia: Bashar Al-Assad.

O Kremlin tem sido um aliado consistente do regime de Assad, mesmo antes da guerra.

A Síria é um importante comprador de armamentos da Rússia, e oferece ainda ao país a base naval de Tartus, única instalação russa no mar Mediterrâneo. A mediação russa foi fundamental na resolução da crise das armas químicas no confronto, no final de 2013.

Àquela altura, EUA e França discutiam a possibilidade de iniciar uma campanha de ataques com mísseis contra alvos do governo sírio, o que foi contido pela mediação de Putin.

Nos últimos dias, a aviação russa lançou ataques em território sírio que surpreenderam as potências que já atuam na região.

A Rússia parece ser movida pelo alto número de cidadãos de seu país – em particular os de repúblicas de maioria muçulmana como a Chechênia – que se juntaram ao EI, e pelo temor de consequências do eventual retorno desses radicais a seu país para realizar ataques.

Embora os russos insistam em que seus ataques visam os “mesmos terroristas” que são alvo dos EUA, outros governos suspeitam que estejam atacando também rebeldes que combatem Assad.

A Casa Branca já afirmou que os ataques russos são “indiscriminados” e afetam de forma aleatória a todos que se opõem ao governo sírio.

Irã

Opõe-se a: Estado Islâmico e insurgentes sunitas

Apoia: governo de Bashar Al-Assad

Uma das potências da região, o Irã é aliado histórico do governo de Assad, a quem fornece armas, apoio militar e financeiro.

Para o Irã, a subordinação de Assad é chave para impor freio à influência de seu grande rival na região, a Arábia Saudita.

Mas a potência xiita tem um inimigo comum com a Rússia e os EUA: o EI, milícia sunita que vê os persas como hereges que devem morrer.

Arábia Saudita

Opõe-se a: Bashar Al-Assad.

Apoia: rebeldes sunitas.

Potência sunita e grande rival do Irã, a Arábia Saudita integra desde o início a coalizão liderada pelos EUA para atacar o EI.

Em recente cúpula em Nova York, o governo saudita reiterou a necessidade de retirar Assad do poder.

O ministro de Relações Exteriores saudita, Adel al Jubeir, disse considerar a possibilidade de intervenção militar para derrubar Assad do poder.

Ele alertou que, caso não haja acordo nesse sentido, está disposto a aumentar o envio de armas e o apoio dos rebeldes. Arábia Saudita é, sem dúvida, um dos fornecedores chave dos rebeldes, incluindo grupos mais linha dura.

Riad nega a acusação do Irã de que esteja apoiando o EI diretamente, e já expressou sua preocupação sobre eventual influência dos radicais sobre movimentos de oposição ao regime saudita.

Contudo, multimilionários sauditas já enviaram doações ao grupo extremista e calcula-se que cerca de 2,5 mil cidadãos sauditas tenham se incorporado ao EI.

Também integram a coalizão liderada pelos EUA: Bahrein, Jordânia, Catar e Emirados Árabes Unidos, todos em linha com a atuação saudita.

Turquia

Opõe-se a: governo de Bashar Al-Assad e separatistas curdos.

Apoia: coalizão liderada pelos EUA e rebeldes.

Turquia, de maioria sunita, é outra potência da região. Seu envolvimento no conflito do país vizinho começou ao apoiar ao Exército Livre da Síria, um dos principais movimentos rebeldes contra Assad.

O país acolheu vários opositores de Assad. E recentemente lançou ataques aéreos contra militantes curdos no norte do Iraque, perto da fronteira com a Síria.

Os ataques haviam sido anunciados contra o EI, mas logo se soube que atingiam também os curdos, que também são inimigos do EI.Reuters

A batalha dos curdos contra o EI, que se dá sobretudo no Iraque, conta com apoio dos EUA.

Embora as relações entre Turquia e Síria tenham sido amistosas ao longo dos anos, houve uma deterioração desde o início da guerra.

O ponto de ruptura foi em junho de 2012, quando sírios derrubaram um caça turco.