Sobrou um dinheiro no fim do mês e resolveu investir? Como devo pensar numa carteira de investimentos e quais pontos devo levar em conta para ter sucesso?
O primeiro passo é perguntar pra si mesmo: Realmente sobrou este dinheiro? Para ter certeza é necessário levantar os gastos mensais e registrá-los em algum lugar de fácil acesso de forma eletrônica, através de uma planilha em Excel por exemplo, ou física, usando um caderno ou bloco de notas. Se tiver alguma dívida que possa ser paga, comece “investindo” nisso. Muitas dívidas possuem juros mais altos dos que pode se conseguir em investimentos em geral, então focar seus esforços para quitá-las pode se mostrar um dos melhores “investimentos” a se fazer.
Com os cálculos de gastos já apontados, podemos avançar para o próximo passo criando a nossa reserva de emergência, que consiste em juntar o valor referente, ao menos, de 6 a 9 vezes desse valor mensal. Esse dinheiro serve para ser usado caso algo “grave” aconteça e não tenha como se manter durante um tempo. Lembre-se que qualquer caso fortuito pode vir ocorrer e essas possibilidades se mostraram realidade em diversos casos de perda parcial de renda, perda de emprego devido a pandemia mundial. A reserva de emergência pode e deve até aumentar a quantidade de meses necessários para que tenha mais segurança nos períodos de tais incerteza que estamos presenciando. Quanto a alocação, a sua reserva de emergência deve ser colocada em um tipo de investimento de alta liquidez e que tenha baixo risco, mesmo que quase não tenha rendimento. Você não vai querer ter surpresa caso necessite desse valor e descubra que perdeu uma boa parte dele por se tratar de alto risco ou ainda penalização por saque. São exemplos de alocação para reserva de emergência: títulos de renda fixa do governo ou CDB de grandes bancos com liquidez diária rendendo pelo menos 100% CDI. Cabe o lembrete que poupança perde para inflação, ou seja, nem proteger seu suado dinheiro você estará protegendo!
Contra a inflação podemos ter exposição a metais preciosos, mais especificamente, ouro e prata ou ainda títulos do tipo TIPS (Treasury inflation-protected securities). A exposição a metais preciosas pode ser feita através da compra física do metal em si ou através de contratos negociados que te dão o mesmo direito. As vantagens desse último são maior liquidez e a não preocupação onde armazenar a peça física.
Agora sim! Vamos aos investimentos. Existem duas principais categorias de investimento: a renda fixa e a renda variável. A primeira gera uma rentabilidade a uma taxa fixa que pode ser subdividida em dois tipos: prefixada (o investidor já sabe qual será no momento do investimento) ou pós-fixada (a taxa aplicada acompanha algum indicador do mercado). Já a segunda, seu rendimento têm variação de acordo com a movimentação do mercado, não tendo um valor como parâmetro de retorno, ou seja, não existe a garantia que o valor aplicado irá aumentar com o tempo.
Tendo conhecimento desses pontos, o terceiro passo é definir qual o seu perfil de investidor, ou seja, qual é a sua tolerância à incerteza do retorno futuro de uma aplicação feita. Existem três tipos mais comuns de perfis de investidor: o conservador, moderado e agressivo. O conservador não tolera riscos, por isso aplica quase a totalidade de sua renda em renda fixa; o moderado tem disposição maior que o conservador, mas ainda preza muito pela segurança; e o agressivo por sua vez está disposto a correr mais riscos, levando em conta que existe uma possibilidade de rentabilidade maior no longo prazo assim como perdas significativas.
O perfil do investidor não é imutável. Sabemos que pessoas mais velhas possuem aversão ao risco, pois em caso de perda de capital não há tanto tempo para correr atrás como havia na juventude. Normalmente, quando um determinado indivíduo começa, não entende como o mercado funciona e também tende a ser mais conservador. Porém, essas mesmas pessoas podem à medida que vão ganhando experiência, aceitarem maiores riscos à procura de maiores retornos.
Para alcançar sucesso nos investimentos eu particularmente, costumo indicar aos meus alunos e clientes, independentemente da idade, que dividam os seus portfólios em partes. Essa estratégia se chama Barbell (que vamos comparar com a uma barra de exercícios) que consiste em colocar diferentes pesos na barra de modo que em um lado dela você tenha uma grande quantia do dinheiro alocada em menor risco e, provavelmente, menor retorno e do outro lado, com uma menor quantidade de dinheiro buscando mais retorno. Também devemos levar em conta uma distribuição diversificada e fazer uso de proteções.
A parte mais conservadora pode ser aplicada em títulos de renda fixa do governo, CDB (Certificado de Depósito Bancário) ou em fundos que tenham pouca volatilidade e que irão te proporcionar, ao menos, a reposição da inflação. Nesse montante, você pode deixar, também, uma porcentagem que será usada em eventuais “oportunidades” de mercado, como um aporte a ser feito após uma grande queda da bolsa de valores ou uma ação que caiu bastante por causa de uma notícia, mas que seus fundamentos financeiros tais como o balanço geral da empresa por exemplo não tenham mudado. Já a parte alocada na busca de mais retorno, alpha como é chamado no mercado, geralmente é feita em ações, ETFs (Exchange Traded Funds), criptoativos, empresas start up e derivativos, ou seja, todos esses investimentos são de exposição em renda variável.
Quando estamos investindo em renda variável, a única parte que podemos controlar é o RISCO que estamos tomando. Ninguém consegue prever nem garantir o retorno que essa exposição te trará, cabe ao investidor entender muito bem onde está investindo e aceitar o tamanho desse risco. Diferentemente do que se prega no mercado em geral, onde o foco é no retorno, eu ensino aos meus alunos que eles devem priorizar a gestão no risco e o retorno será “só” um bônus ao risco tomado. Se o valor que está investido em renda variável está te tirando o sono, sinal que ele é maior do que a sua tolerância a perda e talvez deva rever o tamanho dessa posição.
O tamanho da posição pode variar através de muitos ativos ou grupo de ativos e pode ser administrado por você mesmo ou por gestores profissionais, como no caso de fundos de investimentos. Existem muitas teses de investimento que levam a alocações diferentes. Alguns gostam de empresas pagadoras de dividendos, outros preferem empresas de crescimento, outros preferem escolher quais ações acham que serão “as ganhadoras” (termo esse conhecido como stock picking), outros preferem diversificar em índices nos quais estão contidas várias ações e com isso ganham pela média entre “as ganhadoras” e “as perdedoras”, ou ainda diversificam entre setores, entre países e inúmeras outras formas.
Ah! A famosa diversificação… Diversificação é um item muito pregado pelos gurus, mas tenha em mente que existem maneiras corretas de se obter essa diversificação – se, por exemplo, você alocou 100% do seu capital relativo à renda variável em quatro empresas do mesmo setor, você está diversificando (de alguma forma) mas não está de fato porque se ocorrer um problema justamente naquele setor, todo o seu portfólio vai sofrer. Nunca concentre todos os ovos numa só cesta porque se ela cair, todos podem quebrar! Você pode investir parte da sua renda em ativos que sejam inversamente correlatos porque se um cair, o outro costuma subir. Esse é o caso, por exemplo, entre a bolsa de valores brasileira e o dólar, ou ainda títulos de juros e bolsa americana – quando um costuma cair muito, o outro geralmente sobe, então uma posição compensa a outra. Fato que ninguém também conseguirá com exatidão definir a correlação inversa uma vez que ambas alocações são voláteis e variáveis.
Ainda sobre como diversificar, uma nova classe de investimentos que surgiu na última década são os criptoativos. Desde seu surgimento possuem altíssima volatilidade, o que não quer dizer que será assim ao longo das décadas, e prometem ser um setor interessante para se expor de forma controlada, e que vem apresentando um risco/retorno positivo no longo prazo. Cabe sempre alertar que eles requerem conhecimento específico do investidor, pois inúmeros casos de golpes assolam pessoas despreparadas.
Se mesmo com tanta informação disponível você acredita que investir não é pra você, minha última sugestão é: DELEGUE! Busque um profissional competente, mas NÃO DEIXE DE INVESTIR!
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JJ Andrade
Empresário, Educador Financeiro e Gestor de Portfólios.
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