Neste artigo vamos entender a relação entre relacionamento e performance, esse é um ponto ainda não muito discutido com profundidade, porém é um dos principais assuntos pois o ser humano é um ser sociável e nós necessitamos estar perto de outras pessoas para conseguir ter uma qualidade de vida alta, mentalmente e fisicamente.
Para um atleta conseguir a alta performance vários fatores precisam se alinhar, em outras edições já falamos de alguns pontos como a parte física, técnica, tática e mental. Esses são pilares essenciais, na falta de um, o sistema inteiro não consegue funcionar e é por isso que é necessário trabalhar todos esses pontos.
Ter relacionamentos saudáveis é importante não somente para nossa saúde mental, mas também para nossa saúde física.
Relacionamentos estão diretamente ligados ao nosso nível de felicidade, existem diversos estudos no campo da felicidade e o fator que mais influência neste sentido são os relacionamentos, aspectos financeiros ou popularidade pessoal ficam em segundo plano.
Os fortes laços afetivos que possuímos com nossa família, amigos, pais, treinadores, professores, vizinhos etc. são primordiais para nossa alegria e satisfação, e obviamente um atleta feliz, com relações saudáveis e fortes possuem a condição de performar no esporte em um nível muito mais alto que atletas com problemas afetivos, mesmo que tenha uma diferença considerável no nível técnico entre os atletas.
Há vários estudos neste aspecto e é importante a gente entrar um pouco mais a fundo neste tema para poder compreender realmente o impacto das relações em nossas vidas. Um estudo realizado pela Association for Psychological Science constatou que pessoas com relacionamentos ruins ou solitárias possuem em média 30% a mais de chances de morte nos próximos anos.
O ser humano é uma raça que necessita de relacionamentos e a falta da vida social ou o isolamento é fatal na vida mental e física das pessoas e da sociedade de maneira geral. Lembrando que isso não tem a ver se você é introvertido ou extrovertido, mas sim na questão de não possuir relações saudáveis ou se por algum motivo não ser possível se relacionar com outras pessoas.
Neurocientistas concluíram que quando estamos com outras pessoas, seja em confraternizações ou com a família e treinadores a nossa biologia literalmente muda e diversas substancias são liberadas em nosso cérebro como por exemplo a oxitocina, que é parcialmente hormônio/neurotransmissor, que possui diversas funções como por exemplo: o seu vínculo com pessoas de seu grupo, quando você encontra alguém com a camisa do seu time por exemplo, ou algum atleta da mesma academia, enfim, alguém que você percebe que faz parte de seu grupo, oxitocina incrivelmente também tem a ver com o nível de honestidade, quanto maior o nível de oxitocina no corpo, maior o nível de honestidade de um indivíduo.
Agora que já entendemos a importância dos relacionamentos em nossa vida, vamos discutir maneiras de como manter essas relações saudáveis ao mesmo tempo que buscamos nossos objetivos e a alta performance e como se relacionar com treinadores e familiares durante essa jornada.
A família possui grande influência na vida profissional de um atleta, pai, mãe, irmãos, namorado e marido/esposa. A primeira coisa que o atleta deve ter para com seus familiares é o diálogo.
Conversar é sempre o melhor caminho, nós sabemos que nossos familiares querem o melhor para nós, tentando evitar qualquer tipo de sofrimento, e é comum que nesse processo haja um conflito de opiniões, na visão de sua família, baseado nas experiencia deles, você deveria seguir determinado caminho, e você acredita que deva seguir outro caminho, essa é a raiz principal dos problemas mais comuns no relacionamento entre atleta e família.
Para evitar esse tipo de confronto, afetando a relação o atleta deve tomar para si a responsabilidade desta relação e procurar ser o pacificador, ao invés de ser disruptivo.
Para que isso aconteça é necessário um diálogo honesto a direto informando os motivos nos quais você escolheu a direção que você gostaria de seguir na sua carreira, como por exemplo, volume de treino, que pode te deixar um pouco ausente e distante da família, decisões financeiras, pois gastos com treinadores e equipamentos são bastantes elevados, viagens e tudo mais que envolve este processo.
Comente também sobre seus objetivos futuros, deixe claro aquilo que você quer e por último e mais importante, peça o suporte deles neste processo.
Muitas vezes o atleta diz que não precisa dar satisfação para seus pais ou cônjuge, mas não é este o caso. O ponto aqui é o atleta conseguir fazer sua família entender o seus objetivos e o porquê você faz o que faz, criar empatia e dessa maneira, mesmo que muitas vezes não há acordo, o suporte por parte dos familiares possa ocorrer sem maiores problemas.
O que eu vejo na minha experiencia como treinador mental é que esse suporte ele passa a ser natural quando os familiares começam a ver que o atleta está realmente feliz em buscar seus objetivos.
O relacionamento entre atletas e treinadores é fator fundamental para performance, aliás, poder até ser o principal. Nós vemos diversos casos onde é possível ver uma evolução incrível na performance de um time ou atleta individual apenas com a mudança de uma liderança como variável. E isso tem muito a ver com o relacionamento que esse treinador possui com todas as partes envolvidas, que são muitas.
Um atleta possui diversos treinadores, mental, físico, nutricionistas, empresários, marketing, enfim, são muitas pessoas que o atleta se envolve diariamente e se uma dessas engrenagens não funcionar direito a performance estará comprometida.
A Empatia é essencial em qualquer relação, e nós devemos concentrar nossos esforços em coisas que tempos controle, empatia é uma delas. Existem dois tipos de empatia que são cruciais para o relacionamento saudável.
A primeira é a empatia emocional, que como o nome diz, tem a ver com uma pessoa entender, perceber e sentir o que a outra está sentindo. Nós nunca iremos sentir a exatamente mesma coisa que o outro pois cada um é de uma maneira e do ponto de vista biológico e neurofisiológico nós não conseguimos representar em nosso cérebro e corpo o que está acontecendo com o outro, porém estar ciente e nos colocar no lugar da outra pessoa nos deixa um pouco mais próximo disso e isso faz com que a nossa conexão aumente, aumentando e fortalecendo os laços afetivos entre as partes.
A segunda é a empatia cognitiva, que significa entender os pensamentos e razões das outras pessoas (Liljensfors & Lundh, 2015), este processo é importante pois além de ajudar a entender o outro, como resultado nós também entendemos nos mesmos e aumentamos a nossa auto empatia.
O entendimento do ponto de vista da outra pessoa, sem julgar é um ponto muito importante da empatia cognitiva. A mentalização é a maneira no qual vamos conseguir nos conectar com o outro, existe, porém, uma questão importante, que é o julgamento, neste caso, devemos dizer a nós mesmos que não devemos julgar e sim entender. Vale lembrar que julgar é um processo automático do cérebro que serve como um mecanismo de sobrevivência, ou seja, que nós não temos o controle de primeira, porém conseguimos controlar depois da primeira impressão.
A linha de pensamento ideal para a empatia, seja ela emocional ou cognitiva é o pensamento neutro, ou seja, você não estará julgando positivamente ou negativamente, imagine que fosse uma visão em terceira pessoa, com isso o entendimento do outro será maior e isso estreita a relação entre as duas partes pois quando o outro lado entende que está sendo ouvindo e entendido cria uma relação de proximidade muito grande.
Lembre-se sempre da importância dos relacionamentos em sua vida, e concentre no que você pode controlar, que é o seu comportamento e faça sua parte que os relacionamentos ao seu redor sejam saudáveis. A sua felicidade e performance no dia-a-dia dependem disso.