sábado, 4 maio, 2024 00:12

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Alzheimer – “Um mal que chega devagar, mas que pode apagar as memórias de uma vida inteira”.

A Doença de Alzheimer é uma enfermidade incurável que se agrava ao longo do tempo, mas pode e deve ser tratada. Quase todas as suas vítimas são pessoas idosas. Talvez, por isso, a doença tenha ficado erroneamente conhecida como “esclerose” ou “caduquice”.

A doença se apresenta como demência, ou perda de funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem), causada pela morte de células cerebrais. Quando diagnosticada no início, é possível retardar o seu avanço e ter mais controle sobre os sintomas, garantindo melhor qualidade de vida ao paciente e à família.

O desenvolvimento do Alzheimer pode começar 18 anos antes do aparecimento dos primeiros sintomas da doença e, consequentemente, do diagnóstico. É o que mostra um novo levantamento publicado na revista científica Neurology. Até agora, os estudos haviam mostrado que os processos biológicos que causam o transtorno começavam entre 10 e 12 anos antes de os doentes notarem os primeiros sinais do declínio cognitivo.

Para essa pesquisa, os especialistas da Universidade Rush, nos Estados Unidos, acompanharam 2.125 idosos durante duas décadas. Os voluntários eram saudáveis e tinham, no mínimo, 65 anos. A cada três anos, os participantes eram submetidos a testes para avaliar a função cognitiva.

Ao final do estudo, 21% dos integrantes do universo da pesquisa tinham sido diagnosticados com a doença. Ao olharem para os resultados das avaliações, os pesquisadores perceberam que aqueles que receberam o diagnóstico sempre apresentaram pontuações mais baixas durante todo o estudo.

Na verdade, a pontuação diminuiu de forma progressiva em cada teste. Segundo a conclusão da análise, para cada ponto a menos, o risco de desenvolver Alzheimer aumentava 85%.

Os autores alertam, contudo, que os resultados só servem para o grupo estudado e ainda não podem ser utilizados para prever o risco de um indivíduo desenvolver a doença.

A pesquisa aponta para novas abordagens como a utilização de testes não invasivos e de fácil aplicação para avaliar os riscos de as pessoas de meia-idade desenvolverem a demência. Estima-se que 35 milhões de pessoas têm Alzheimer no mundo. No Brasil, são 1,2 milhão de casos, a maior parte deles ainda sem diagnóstico, segundo a Associação Brasileira de Alzheimer.

Mas, a boa notícia é que o Mal de Alzheimer pode estar com os dias contados. Saiba o que os cientistas estão descobrindo a respeito desta doença:

A surpreendente descoberta de uma conexão direta do cérebro de um mamífero com seu sistema linfático, parte essencial de nosso sistema imunológico, deverá obrigar a uma revisão geral dos livros sobre a anatomia humana. E pode abrir caminho para melhor compreensão das causas de doenças degenerativas relacionadas a distúrbios neuroimunes, como o mal de Alzheimer e a esclerose múltipla – o que potencialmente levaria a novos tratamentos médicos.

Publicado no site da revista Nature, o estudo, de pesquisadores da Universidade de Virgínia (EUA), encontrou estruturas similares aos vasos linfáticos interligadas aos chamados seios venosos durais (canais sanguíneos localizados na dura-máter, camada mais externa das meninges, as membranas que protegem o sistema nervoso central) de camundongos, o que indica que também estão presentes no cérebro humano.

Até agora, o cérebro era visto como uma das poucas partes do nosso corpo conhecidas como “imunoprivilegiadas”. O termo é antigo nos estudos sobre o funcionamento de nosso organismo e, diferentemente do que sugere, não quer dizer que o órgão é palco de uma atividade intensa e prioritária do sistema imunológico. Pelo contrário, ele significa que o cérebro estaria praticamente “isolado” de sua ação por razões ainda não totalmente conhecidas, provavelmente para evitar que sofra “danos colaterais” na luta do sistema imunológico contra agentes externos ou internos causadores de doenças ao retardar e tornar mais específica sua resposta imune a estes patógenos. A descoberta, então, representaria o fim deste “privilégio”.

“Assim, no lugar de nos perguntarmos ‘como estudamos a resposta imunológica do cérebro?’ ou ‘por que pacientes com esclerose múltipla sofrem ataques imunológicos?’, agora podemos abordar isso mecanicamente, pois o cérebro é como qualquer outro tecido conectado ao sistema imunológico periférico via os vasos linfáticos nas meninges”, diz Jonathan Kipnis, diretor do Centro para Imunologia do Cérebro.

“Isso muda completamente a maneira como vemos a interação neuroimune. Antes, sempre víamos isso como algo esotérico, que não pode ser estudado, mas agora podemos fazer questionamentos mecânicos. Acreditamos que, para toda doença neurológica que apresenta um componente imune, estes vasos tenham um papel importante. É difícil imaginar que estes vasos não estejam envolvidos nestas doenças.”

Para João Viola, presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Imunologia) e pesquisador do Instituto Nacional do Câncer, se estudos futuros comprovarem que o cérebro humano também está diretamente conectado ao sistema linfático, isso realmente vai mudar os atuais paradigmas em torno do status de imunoprivilegiado do cérebro e as consequentes relações disso com diversas doenças neurológicas.

“Já sabíamos que processos imunológicos, como infecções, inflamações e distúrbios autoimunes, ocorrem no cérebro, então desconfiávamos que ele não seria tão imunoprivilegiado assim”, comenta Viola. “Mas não sabíamos exatamente como as células do sistema imunológico chegavam até o cérebro. Agora, porém, temos uma rota para melhor entender como a resposta imune chega lá, pelo contato direto com o sistema imunológico que se achava que não existia.”