quinta-feira, 25 abril, 2024 10:50

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Ano novo, novas perspectivas?

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A maioria das pessoas aproveita a virada do ano para renovar seus compromissos, confirmar seus objetivos e rever metas e planejamentos. O fato de estarmos morando em um país diferente do nosso, faz com que muitos imigrantes compartilhem alguma coisa em comum nesse momento. Seja a saudade do Brasil, o sentimento de querer estar perto da família, os planos de retornar para sua cidade de origem ou até mesmo de se estabelecer definitivamente nos Estados Unidos. Esse processo de análise acerca do futuro pode deixar muitas pessoas indecisas, incertas das decisões que devem tomar, e até mesmo causar ansiedade. Para muitos, a vida de um imigrante tem seus momentos de solidão. Apesar dos amigos e do apoio que muitos de nós temos da comunidade, aquela sensação de estar longe causa um aperto no coração principalmente nessa época do ano.
Em nosso tempo, os psiquiatras, psicólogos e estudiosos do comportamento humano cada vez mais se deparam com pacientes cuja queixa é um sentimento vazio, uma sensação de que as vidas são completamente sem sentido. Estes pacientes falam também de uma sensação de vazio, um vazio existencial. Este “vazio”, pode ser também compreendido, explicado e interpretado como resultante da frustração daquilo que é a força motivacional básica que opera as pessoas. Isso significa que todos aqueles que tem um objetivo, uma força motivacional que vem de dentro, encontram razões para continuar firmes em seus propósitos e seguir a caminhada da vida. O que leva muitos de nós a sentirmos tristeza e saudade, é a constante comparação entre a vida que tínhamos no Brasil e a vida que temos aqui. Mas muitos de vocês podem se questionar: “mas a vida que eu tenho aqui é muito melhor”! Quando nós olhamos para o lado de fora, realmente a estrutura que o país oferece proporciona benefícios que no Brasil seriam difíceis de serem conquistados.
O poder de compra, a segurança e a educação são variáveis que são constantemente lembradas como fatores que estimulam a permanência de brasileiros nesse país. Enquanto muitos já se estabeleceram por essas terras, outros reclamam que ainda falta algo. Talvez a inconstância da vida aqui, a sensação de pisar no chão, mas não se sentir ‘em casa’. Muitas pessoas ainda têm o seu ‘porto seguro’ em suas respectivas cidades no Brasil, no braço de suas famílias, na sua língua, nos seus hábitos e costumes. Jamais pode-se julgar alguém por não ter se adaptado à ‘vida na América’. A pressão em conseguir se estabelecer de forma acelerada pode gerar objetivos intangíveis que dificilmente serão alcançados. E é natural de qualquer ser humano se frustrar diante do não atingimento de suas metas e objetivos. Precisamos esclarecer dois pontos importantes aqui. Primeiramente é necessário dizer que essa pressão pelas conquistas pode vir de vários lados. Aquele conhecido que já se estabeleceu por aqui e que na maior das boas intenções te ‘ensina o caminho das pedras’ para vencer na América, pode ser o primeiro da fila a lhe desmerecer caso não seja bem-sucedido nas suas tentativas. Seja porque você não se adaptou ao trabalho, ou não seguiu à risca às orientações dele, motivos não faltam para que você seja visto como ‘incapaz’, ‘preguiçoso’ ou até mesmo ingrato.
Ainda temos os conhecidos que ficaram no Brasil, com a eterna cobrança da sonhada conquista financeira, pois afinal, ‘você está ganhando em dólar’, e até hoje não comprou uma casa, um lote ou apartamento no Brasil. Isso não tem como você controlar. No máximo, o que pode fazer é aprender a gerenciar essas situações de forma que consiga manter sua saúde física e mental. No entanto há alguém que te cobra muito e isso pode atingi-lo bastante: você mesmo. Nesse caso, é importante desenvolver algo chamado de autoconhecimento. Quanto mais você se conhecer, mais saberá lidar com as cobranças que você mesmo se faz. É extremamente importante que conheçamos nossos limites, nossas fraquezas, nossas forças e tenhamos objetivos claros. Você já parou para pensar naquilo que realmente te deixa feliz? No que te traz paz? Ou o que te deixa triste? Ou motivado? As respostas para essas perguntas te auxiliarão no processo do autoconhecimento. Já prestou atenção em como nos sentimos confortáveis ao dirigir um mesmo carro por muito tempo? Sabemos exatamente todos os detalhes. A pressão certa de pisar no freio e no acelerador, qualquer barulhinho diferente a gente já percebe. Deveríamos ser assim com nós mesmos. Perceber as sutilezas que nos incomodam e saber controlar nossa mente e nossas emoções para manter um certo equilíbrio e tranquilidade.
Em segundo lugar você deve se policiar em relação ao atingimento de metas. Estabelecer objetivos a serem atingidos é muito importante, mas cuidado para não criar metas que são inalcançáveis. O processo de satisfação das necessidades das pessoas segue uma lógica em que precisamos ter um certo retorno do investimento que fazemos em busca da conquista dos nossos objetivos. É perfeitamente aceitável e normal que não consigamos tudo que desejamos. Na verdade, de muitos planos que temos, é provável que apenas alguns irão se concretizar. Lidar com a frustração se torna parte fundamental desse processo. Entretanto, como defende a lei do reforço, vez ou outra temos que conseguir o que queremos, é isso que nos motiva a continuar. O senso comum, ainda mais nos dias com hoje com vídeos motivacionais pipocando em todas a redes sociais, estimulam as pessoas a ‘pensar grande’. Para que me planejar a viajar para New York se eu posso dar a volta ao mundo? Mas não é bem assim. Sonhar alto estimula nossa criatividade e nos traz uma sensação de querer ir além. Porém, não adianta pensar grande demais e estabelecer metas extremamente difíceis se você nunca as alcança e sempre fica desestimulado por consequência.
Você já deve ter ouvido falar sobre a lógica dos cassinos. Por meio de pequenas apostas as pessoas ganham algum dinheiro e esse reforço as faz quererem jogar mais e mais almejando ganhar milhares de dólares. Quando isso não acontece elas acabam perdendo mais dinheiro do que ganharam e saem dos cassinos com saldo negativo. É bem assim na nossa vida. Aposte aquilo que você consegue controlar. Não jogue alto demais para conseguir sonhos impossíveis. Não conseguir seus objetivos de curto prazo poderá te deixar frustrado e desestimulado a seguir em frente. Aquela famosa expressão “ele não sabia que era impossível, foi lá e fez” é atribuída ao poeta francês Jean Cocteau, que ironicamente nunca teve seus talentos reconhecidos como queria até sua morte em 1963. A frase, que a princípio evoca um estímulo motivacional de sair conquistando o mundo, é interpretada de maneira descuidada por muitos. Lute pelos seus sonhos, mas mantenha objetivos tangíveis e alcançáveis. À medida que for conquistando seu espaço, estabeleça novas metas e assim, com planejamento, certamente chegará aonde quer.
O início de ano é sempre propício a essas reflexões. Independente da sua decisão, definitiva ou não, de permanecer nesse país, não se cobre tanto. Tente clarear sua mente, balancear suas emoções e sentir-se seguro do caminho que escolher. O importante é ser feliz e conviver bem consigo mesmo e tentar dar menos importância para o que os outros pensam e opinam em relação a você. Se você sente saudade de casa, transforme isso em motivação para poder visitar ou até mesmo retornar à sua cidade daqui um tempo. Se você está feliz e realizado aqui, saiba desfrutar de todo o conforto e benefícios que esse lugar pode oferecer. Não há certo ou errado nesse ponto. Muitos deixaram suas famílias no Brasil e encontraram novas famílias aqui. Outros têm a oportunidade de trazer seus entes mais queridos para cá. Ainda há aqueles que simplesmente não se encontraram aqui.
Para todas nossas decisões e escolhas, sempre teremos que renunciar a alguma coisa. Por mais benefícios que uma escolha nos traz, teremos que abrir mão de algo. A questão é saber conviver com nossas decisões e aceitar que não somos capazes de acertar sempre. Há pessoas que ficam estagnadas em alguma época de suas vidas e tornam-se reféns do tempo. São aqueles que passam a vida toda tentando alcançar um objetivo, com a mentalidade de que “quando eu tiver isso, vou poder viver tranquilo”. O problema é que esse dia nunca chega, estes são vencidos pelo tempo. Quando despertarem para a realidade, pode ser tarde demais terem seus sonhos concretizados. Qual é a maneira correta de vivermos? Um dia após o outro, sem nos preocuparmos com o que irá acontecer amanhã, ou sempre estarmos precavidos, fazendo tudo com ponderação esperando colher bons frutos para o futuro? Essa resposta cabe somente a você. Não existe uma fórmula mágica que traga essa resposta. Se eu puder contribuir com algo após a leitura desse texto, fica a mensagem para que se cobre menos, cerque-se de pessoas que lhe estimulam, saiba conviver com algumas frustrações que temos no nosso dia a dia, e conduza sua vida com mais leveza, valorizando aqueles que gostam de você e aproveitando, de forma saudável as oportunidades que surgirem.