sábado, 18 maio, 2024 01:04

MATÉRIA

Casa de Mãe

Na cabeça da gente, a casa da nossa mãe é o lugar mais aconchegante do mundo, mesmo que ela seja simples, que não tenha luxo algum, mas ela tem uma energia inexplicável que marca a vida da gente e, é para lá que o nosso coração sempre volta nos momentos de saudades. Mas, como é que fica a casa da mãe, quando os filhos vão embora? Eu digo! 

A casa da nossa mãe quando a gente vai embora, vira um altar de orações, noite e dia, a qualquer hora, tem orações… tem orações espalhadas por todos os cômodos da casa. Cada canto uma saudade. O que mais tem em casa de mãe são suspiros profundos, tentando aliviar a angustia que insiste em apertar o peito, tem um caminhar incansável de um lado para outro, tem uma tristeza que não cessa, uma preocupação constante e a escolha da melhor ora para encontrar uma desculpa e telefonar para o filho e ter a certeza de que tudo está bem.

Impossibilitada de fazer aquelas perguntas inevitáveis, como: Aonde você vai? Que horas você volta? Quem vai com você? Você não vai comer direito? Pegou todos os documentos?  E tantas outras mais, que na hora irrita os filhos, mas nada importa, elas seguem com seus questionários mesmo que o filho já tenha 30 anos. Então o que resta a ela, é um mergulho frio no silencio daquela casa, onde já não tem objetos espalhados pelo chão, nem música alta tarde da noite, nem pratos e copos sujos no quarto, nem papel de balinha debaixo da almofada do sofá da sala, e o que mais sobra é tempo. Tempo para procurar o que já não está, tempo para lembrar, para repensar, para se arrepender da falta de paciência, dos gritos, de palavras que poderiam ser evitadas. Ela então percebe, que o que antes sobrava, agora falta, falta barulho, falta roupa bagunçada no armário, falta conversas acompanhadas de altas risadas, falta luzes acesas de madrugada, falta a palavra “MÃE” dita, gritada, sussurrada o dia inteiro, …tudo o que tem agora é uma grande falta.

Falta cheiro, falta o perfume exagerado antes de sair de casa, falta cheiro de shampoo no banheiro, o cheirinho do filho na hora do abraço, falta o cheiro da comida especial de acordo com o gosto de cada um, falta a sobremesa na geladeira, o sorvete predileto no congelador e o mais importante…. falta o barulho da porta se abrindo. 

Casa de mãe depois que os filhos vão embora é puro silencio, é prece, é solidão, é um buraco no peito que não para de doer, tudo o que resta é a oração, é recorrer ao Pai para que Ele seja para o filho a proteção que o filho precisa, para que anjos o guardem. Enquanto o tempo passa, as fotos antigas são organizadas e reorganizadas a cada vez que alguém faz uma visita ou que aquela amiga vem para ouvir as suas histórias repetidas sobre os seus filhos.

Casa de mãe sem os filhos é ninho vazio, é um tempo quebrado, é gente de menos e quartos demais, quartos com histórias nas paredes e alguns objetos que eles não levaram, mas que as mães vão deixar ali para sempre. Casa de mãe tem amor demais, amor que transborda sem ter aonde encostar, sem ter para quem oferecer. Porque mãe quando quer demostrar amor, corre até a cozinha para fazer aquele brigadeiro que o filho pede, aquele pão de queijo ou bolo que o filho come até acabar. E, sem ter motivos para sujar a cozinha, a mãe faz um café e se perde ali, no cheiro que sai daquela fumaça, que a faz novamente mergulhar em lembranças.  

Enquanto os filhos fortalecem suas asas, construindo suas vidas independentes e sempre direcionadas para frente, onde na maioria das vezes não tem muito espaço ou inclui a presença da mãe. A mãe espera, espera uma visita no feriado, nas férias, num final de semana, espera uma ligação, espera um eu te amo, um abraço, uma surpresa, espera pela chance de ver o filho dormindo na caminha dele novamente, espera ouvi-lo chama-la com um grito de urgência, ou simplesmente com uma reclamação sem importância, ela espera… ora e espera.

Então, caro leitor, se você assim como eu, ainda tem a sua mãezinha e você já saiu do ninho, entenda o que é a casa da sua mãe hoje, sem você. Tente imaginar o quanto a sua ausência incomoda, o quanto a sua presença é importante. Muitas vezes vivemos uma vida inteira tentando conquistar e ser importante para alguém, para pessoas em nosso ciclo de amizades ou trabalho. Mas a verdade, é que você já é a pessoa “mais importante do mundo, para a sua mãe”. Valorize isso, volte o seu coração para a ela e reconheça esse amor tão grande. 

Visite mais vezes se você puder, ligue mais vezes para a sua mãezinha, faça com que ela se sinta amada também. Isso vai trazer saúde mental e acredite, física também. A solidão adoece, traz depressão, tristezas, angustias. A solidão mata aos poucos e a falta de um filho vivo, causa a pior das solidões. 

A casa da sua mãe sem você filho(a), é triste, é um lugar de choro e de saudades. Mude esta história, mude este cenário enquanto você ainda pode. Nos dias de hoje, com a internete, você pode estar presente na hora do almoço, do jantar, você pode dizer bom dia, boa noite, você pode manifestar a sua preocupação e o seu cuidado com ela a qualquer momento, você pode mostrar a ela o seu olhar amoroso e pode tornar os dias e as noites dela muito melhores.

Se ela não sabe usar o telefone, não faça disso um empecilho, chame um amigo, um parente, contrate alguém para deixar tudo mais fácil, peça ajuda, só não desista de se fazer presente. 

Um dia, essa casa vai estar vazia e aí sim, será tarde demais. A escolha é sua, escolha amar, escolha devolver o carinho que sempre lhe foi dedicado através dela, escolha aquecer o frio da casa dela com o seu calor e mate essa saudade que incomoda tanto o coraçãozinho dessa mulher que só te quer bem.

Mesmo que não possa voltar fisicamente, volte com seu amor, volte com palavras carinhosas, volte a encher a casa da sua mãe com a presença que mais faz falta, a sua. 

Volte sozinho, volte com seu/sua companheiro(a), com seus filhos, encha a casa dela de amor novamente, cuide daquela que merece toda a sua atenção, daquela que vive dias e noites pensando, orando, intercedendo para que você tenha sucesso, para que você não adoeça, para que ninguém te machuque, …para que você não a esqueça.

Volte para casa, filho! 

Por: Dilla Campos