quinta-feira, 28 março, 2024 14:26

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Perda de sono pode levar a danos cerebrais irreversíveis

Quem passa dias e noites trabalhando, talvez devesse mudar de emprego. Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia e publicado nessa semana no Journal of Neuroscience mostrou que o hábito de ficar acordado por muito tempo pode levar à perda irreversível de neurônios cerebrais.

A área do cérebro afetada é o locus coeruleus, que ajuda na cognição e na resposta ao estresse. Como produz a substância noradrenalina, a região também influi no humor e na ansiedade.

Para a neurocientista Sigrid Veasey, uma das responsáveis pela pesquisa, a ideia de que é possível compensar as horas de sono perdidas com um longo período de descanso depois não passa de um mito. “Talvez o dano cerebral já tenha ocorrido”, afirma.

A pesquisa mostra, pela primeira vez, que existem riscos para a saúde do hábito de ficar acordado por muito tempo. “Não se acreditava até agora que o cérebro pudesse sofrer danos irreversíveis por conta da falta de sono”, disse a pesquisadora.

Para fazer o estudo, os pesquisadores analisaram ratos após períodos de sono normais. Depois, compararam os resultados obtidos com ratos que estavam em períodos de curta vigília e de vigília prolongada.

O grupo que costumava ficar acordado por mais tempo perdeu cerca de 25% dos neurônios do locus coeruleus. O problema não foi notado nos ratos que ficavam sem o sono por um curto período, mas naqueles que tinham como hábito permanecer longo tempo acordados.

Agora os pesquisadores planejam estudar trabalhadores que são expostos a rotinas nas quais não é possível manter um sono regular e frequente.

FICAR SEM DORMIR AFETA SISTEMA IMUNOLÓGICO – Para entender a importância de uma noite bem dormida, muitos pesquisadores costumam utilizar a privação do sono em seus estudos. Dessa forma, é possível entender como o organismo se comporta em situações em que é impedido de descansar.No estudo publicado pela revista “Innate Immunity” os cientistas investigaram o impacto de duas noites sem dormir e quatro noites de privação do sono REM, estágio em que ocorrem os sonhos. Os testes realizados com 30 voluntários saudáveis demonstraram que as duas formas de privação afetaram o sistema imunológico dos pacientes. Foi constatado um aumento no número de células de defesa, uma característica de quadros infecciosos, indicando que o corpo dos voluntários entendeu que estava sob algum tipo de ameaça. No grupo privado do sono REM, os dados apontaram uma diminuição da imuglobina A, uma proteína presente na secreção das mucosas envolvida na proteção contra a invasão de doenças. Essa descoberta explica a relação entre a má qualidade de sono REM e a maior suscetibilidade a gripes e resfriados, por exemplo.

DORMIR POUCO E DE DIA MATA NEURÔNIOS – Em outro estudo, publicado pelo “Journal of Neuroscience”, os cientistas identificaram que a privação de sono crônica pode ter efeitos ainda mais graves para a saúde. A investigação utilizou experimentos em camundongos e simulou um padrão de sono considerado ruim, mas que é comum em pessoas que trabalham em turnos noturnos e conseguem dormir apenas quatro ou cinco horas durante o dia. Analisando os resultados obtidos, os pesquisadores identificaram que as cobaias chegaram a perder até 25% dos neurônios de uma parte do cérebro chamada de tronco cerebral. O estudo é a primeira evidência de que noites mal dormidas podem levar à morte de células cerebrais. Mais experimentos devem ser realizados para investigar quais seriam as extensões desses danos em humanos.

MASSAGEM MELHORA SONO NA MENOPAUSA – Além dos conhecidos “calores”, as alterações hormonais características da menopausa também são responsáveis por causar alterações na qualidade de sono de muitas mulheres, levando a episódios de insônia. Pesquisadores dos departamentos de Psicobiologia e Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) descobriram um novo possível aliado para uma boa noite de sono: a massagem. O estudo, publicado pela Sociedade Internacional de Menopausa, analisou os efeitos da massagem terapêutica utilizando 44 voluntárias. Os dados coletados levaram em conta a severidade da insônia e um questionário de qualidade de vida na menopausa. A conclusão dos cientistas foi de que a massagem conseguiu melhorar a sintomas de ansiedade e depressão, além de diminuir a insônia das mulheres que apresentavam dificuldade na hora de dormir.

DORMIR MAIS PARA EMAGRECER – Pessoas interessadas em manter a forma devem se preocupar com a duração do sono. É o que sugere um estudo publicado pelo periódico “Sleep Medicine”, da Associação Mundial de Medicina do Sono. A pesquisa utilizou como amostragem 1.042 indivíduos de ambos os sexos, com idades variando de 20 a 80 anos. Foram coletados dados como tempo de sono, medidas do corpo e peso. Além disso, testes realizados permitiram a medição da qualidade enquanto os participantes dormiam. Analisando os resultados, os cientistas fizeram a seguinte associação: pessoas que dormem menos possuem mais chance de terem índices maiores de massa corporal e circunferência de abdômen e pescoço.

DORMIR (OU NÃO) CAUSA PROBLEMAS NO CORAÇÃO – Os efeitos do número de horas dormidas são temas recorrentes em muitos estudos. Um grupo de cientistas da Sociedade Européia de Cardiologia utilizou as bases de dados de diversas bibliotecas médicas para fazer um levantamento que uniu 15 pesquisas, totalizando uma amostragem de 474.684 indivíduos, entre homens e mulheres. Com essas informações, eles traçaram um paralelo entre tempo de sono e morbidade e mortalidade por doenças coronárias, enfarte e outras doenças cardíacas. A conclusão? Tanto dormir pouco quando o excesso de sono são vistos como predecessores ou marcadores de complicações cardiovasculares.

EXERCÍCIO PARA DORMIR MELHOR – Outro ponto de muito interesse é a relação entre qualidade de sono e exercícios físicos. Uma meta-análise conduzida em conjunto pela Universidade de Pittsburgh e a Universidade da Carolina do Sul, ambas nos Estados Unidos, investigou os efeitos de atividades físicas supervisionadas na melhora do quadro de apneia do sono, desordem caracterizada pela obstrução da respiração quando o indivíduo está dormindo. Os cientistas analisaram diversos estudos sobre o tema e identificaram estatisticamente que a prática regular de exercícios é capaz de reduzir a severidade da apneia do sono, mesmo nos casos em que há mínimas alterações no peso do paciente. A descoberta foi publicada no periódico Lung e pode significar uma boa opção para o controle dessa condição.

EXERCÍCIO À NOITE FAZ BEM – Ainda na questão da relação entre exercícios físicos e sono, um estudo da Sociedade de Pesquisa em Psicofisiologia investigou se jovens não estariam prejudicando sua qualidade de sono ao praticar esse tipo de atividades antes de dormir. Para tanto, os cientistas estudaram 17 jovens saudáveis considerados “bons dormidores”, sem nenhum problema ou condição que por si diminuísse a qualidade do sono. Após realizar testes e monitoramentos em cinco dias não consecutivos eles constataram que os exercícios não tiveram efeitos negativos, pelo contrário, melhoraram o padrão e a eficiência de sono desses indivíduos.

DORMIR LIMPA O CÉREBRO – Uma noite bem dormida pode trazer benefícios para o cérebro. É o que sugere um estudo realizado pela divisão de Neuromedicina da Universidade de Rochester, em Nova York, publicado pelo periódico “Science”. Os pesquisadores utilizaram ratos para mostrar, pela primeira vez, que os espaços entre as células do cérebro pode aumentar durante o sono. Essa expansão seria vital para nosso corpo, já que permitiria uma limpeza mais eficiente das toxinas que se acumulam durante as horas acordado. Se os mesmos resultados puderem ser confirmados em humanos, as horas de sono terão uma importância além da formação de memória, sendo vitais para a manutenção química do nosso cérebro.

DORMIR MELHORA FUNCIONAMENTO DOS NEURÔNIOS – Outra descoberta sobre o poder e a importância do sono para o bom funcionamento do nosso cérebro foi publicada no “Journal of Neuroscience”, publicação da Sociedade de Neurociência. No estudo, pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison descobriram que o cérebro adormecido aumenta a produção de células vitais para o reparo e o crescimento da bainha de mielina, revestimento que assegura a funcionalidade dos nossos neurônios. A chave para esse processo está na síntese de células chamadas precursoras de oligodendrócitos. Essa produção é ampliada durante as horas de sono, enquanto o estado de alerta é marcado por desenvolver genes responsáveis pela morte de células. Esse tipo de conhecimento pode ser de grande importância para o desenvolvimento de métodos mais eficientes de prevenção e combate de doenças como a esclerose múltipla, ocasionada pela degradação da bainha de mielina.