Na terra de Israel, num determinado dia em que ninguém estava alerta, surge a assombrosa notícia de que em Belém da Judéia nascera um menino todo especial, chamado Jesus.
E a notícia causa tanto maior espanto, quanto era certo haver testemunhas de que um anjo do Senhor descera lá dos céus
a anunciar aos pastores que guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite que na cidade de Davi, havia nascido o Salvador,
que é Cristo, o Senhor – o Messias prometido aos israelitas.
E o anjo deu-lhes um sinal, dizendo:
Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura. E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidã dos exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo: Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens.
A presença desse menino mostrara-se de tal maneira prodigiosa logo de início, qua simples notícia de seu nascimento pusera
o rei Herodes em pânico e toda a Jerusalém com ele.
Sem que os judeus se dessem conta, tinha nascido verdadeiramente o Messias que lhes fora prometido pelos profetas, desde Moisés a Malaquias. Esse menino assim tão prodigioso cedo começou a não ser compreendido.
Quando já tinha doze anos, por conseguinte, um rapazinho já crescido, seus pais o encontraram no Templo no meio dos doutores da lei. Depois de algumas palavras de reprovação da
parte de sua mãe, por Ele ali ter fi cado sem lhes dizer palavra, Jesus respondeu: Não sabeis que me convém tratar dos negócios do meu Pai? E eles não compreenderam as palavras que lhes dizia. E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens.
Entretanto, quando Ele, aos trinta anos, se apresentou publicamente perante os judeus, o seu povo, os seus não O receberam.
Ali estava verdadeiramente o Messias! Contudo, o Messias que os judeus aguardavam era todo diferente daquele que agora se lhes apresentava. Eles não estavam interessados em
um libertador de ordem puramente espiritual.
Queriam um libertador que se apresentasse com as características de um Ciro, de um Josué, de um Sansão, de um Nabucodonosor, ou ainda de um Pompeu. Um homem destro na
guerra e corajoso, capaz de vencer todos os impérios da terra,
sem que alguém mais pudesse levantar a cabeça debaixo do
seu domínio.
Quanto a Jesus, os judeus nenhuma beleza viram nele para
que o desejassem. Primeiro, o Messias que se lhes apresentava nascera numa manjedoura onde animais mal-cheiroseram alimentados, quando aquele por quem esperavam deveria nascer infalivelmente num palácio real rodeado de pompas e de honras, e nunca duma forma assim desprezível – numa estrebaria.
Em segundo lugar, quando menino, brincara com e como qualquer garoto de rua, e não num jardim dum palácio, com aios escolhidos a vigiá-lo.
Depois, quando se apresentou publicamente aos judeus, a sua mensagem dirigida a todos, incluindo uma classe sacerdotal que se fazia passar por muito santa, era esta: “VINDE A MIM…” Expressão que os judeus religiosos tomaram como uma afronta atrevida. E por cima de tudo isto, em vez de se dirigir aos doutores da lei e aos escribas e fariseus, fez-se rodear dum grupo de doze discípulos escolhidos entre a “ralé”, o povo humilde, incluindo pescadores, e até mesmo de um publicano (um odiado cobrador de impostos).
E não gostavam do que ouviam da boca de Jesus, que lhes dizia: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida. Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Eu e o Pai somos um”. Ora, se o testemunho que Jesus, humanamente, podia dar de si mesmo não agradava aos judeus, quanto mais dizer “Eu e o Pai somos um”. Isso não podia ser tolerado e nem aceito. Isto equivalia a fazer-se igual a Deus!
Que blasfêmia! Por isso, mais uma vez pegaram em pedras para o apedrejarem.
Isto fala-nos da maneira como Jesus era escutado pelos cabeças religiosos judeus; ainda que muitos dentre
o povo o ouviam com agrado. Todavia, seu ministério provou ser poderoso e bom, desde o princípio até o fim.
Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas e pregando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.
E a sua fama corria por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias enfermidades e tormentos, e ele os curava. E seguia-o uma grande multidão da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia, e de além do Jordão.
Se, por um lado, os dirigentes do povo rejeitavam Jesus e a sua palavra, multidões de povo humilde, beneficiadas por seu poder, o seguiam atraídas pela sua presença. Mas isso não é tudo.
Por duas vezes a multidão que o seguia não tinha comida para se alimentar, e havia muito tempo que não comia, pois a sua palavra era tão doce aos corações sedentos de amor e compaixão, que as pessoas preferiam ouvi-lo e seguilo a irem em busca de alimentos para matar a fome.
Então, em ambas as ocasiões, Jesus tomou os poucos pães e peixes que foram achados na posse de alguém entre a multidão e, depois de os ter abençoado, partiu-os e ordenou aos seus discípulos que distribuíssem aquele alimento pela multidão que, segundo a ordem emanada de Jesus, se havia assentado ordenadamente sobre a relva. E as milhares de pessoas que foram alimentadas por aqueles poucos pães e peixes ficaram fartas e ainda sobejou em abundância. Mas Jesus também ressuscitou mortos! – o filho da viúva de Naim (cidade onde ocorreu o milagre), a filha de Jairo, e Lázaro (irmão de Marta e Maria). Estes feitos de Jesus apavoraram de tal maneira os principais dos sacerdotes e os fariseus, pois receavam perder as suas posições recebidas das mãos dos dominadores do povo, que logo formaram conselho e disseram:
Que faremos? Porquanto este home faz muitos sinais. Se o deixarmos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação. E dali em diante planejaram matá-lo.
Ora, esta conjuração dos judeus contra Jesus veio a produzir os efeitos mais extraordinários e funestos que alguma vez tiveram lugar na história dos filhos de Israel e bem assim na história da humanidade.
Porquanto, aquele homem que só tinha feito o bem a todos quantos tinham vindo a ele, sem exceção de pessoas ou níveis sociais, veio a ser crucificado e morto, como se tratasse de um malfeitor!
Todavia, o homem que dissera a Marta – Eu sou a ressurreição e a vida – confirmou definitivamente estas suas palavras, quando, ao terceiro dia após a sua crucificação, ressuscitou de entre os mortos. Os judeus, porém, ludibriados e cegamente acorrentados pelos sacerdotes e príncipes do povo, não creram na ressurreição de Jesus e, implicitamente, também não o reconheceram como o Messias que esperavam. E nesta sua cegueira espiritual, tinha já acontecido um ato do julgamento de Jesus, que os mesmos judeus haviam ditado contra si e seus filhos esta horrível sentença! – O SEU SANGUE CAIA SOBRE NÓS E SOBRE OS NOSSOS FILHOS – e foi assim que os judeus, com exceção de um pequeno número, rejeitaram o seu Messias.
Jesus iniciara o seu ministério terreno, dizendo ao povo que o escutara:
Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus. A sua Igreja, por sua vez, não dirigida por Pedro (como alguns, falsa e erroneamente ensinam), nem por qualquer outro homem, mas tão somente pelo Espírito Santo que estava em Pedro (e nos demais discípulos) dizia a quantos ouviam a sua mensagem: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus, para perdão dos pecados; e muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos.
Aconteceu, porém que, do mesmo modo que Jesus fora rejeitado e perseguido, também os seguidores e continuadores da sua obra foram rejeitados e perseguidos. A cegueira dos judeus que rejeitaram a Jesus foi tão grande, que tudo entre eles se passou como que se o Messias não tivera vindo! Jesus veio para os que eram seus, e os seus não o receberam.