quinta-feira, 25 abril, 2024 12:37

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“Ser bilíngue” – dificuldades de aprendizagem de línguas

Viver Magazine Revista Brasileira nos Estados Unidos

Como nosso cérebro “aprende” uma língua? Neurologistas e linguistas e neuropsicologos afirmam que o cérebro responde de forma semelhante a um músculo, aumentando de tamanho, após ser estimulado regularmente. Também é cada dia mais claro que o aprendizado de línguas é uma das formas mais bem-sucedidas de treinamento do cérebro. Mas, você sabe como funciona o cérebro ao aprender idiomas? 

Melhora a memória – Um dos maiores benefícios para o cérebro em aprender um idioma é que a memorização da gramática e do vocabulário, bem como o aprendizado de novas regras possuem efeitos positivos na retenção cognitiva diária. Assim como exercitar o corpo, treinar o cérebro oferece benefícios consideráveis à saúde. Alguns estudos identificam a ligação entre ser bilíngue e conseguir retardar a demência e a doença de Alzheimer, em aproximadamente, quatro anos. A razão para esse atraso, acreditam os pesquisadores, é que aprender um idioma desafia nossas células cinzentas, o que ajuda a prevenir sua degeneração.

Torna o cérebro mais saudável – Por meio de estudos, pesquisadores notaram que a estrutura do cérebro mudou somente nas pessoas que estavam estudando um novo idioma. De forma específica, as regiões que aumentaram foram o hipocampo, a estrutura do cérebro relacionada com a emoção e a memória, além de regiões do córtex cerebral. Com os resultados, foi possível verificar que a aprendizagem de línguas é uma forma eficiente de deixar o cérebro saudável.

                                                                                               

Deixa a pessoa mais concentrada e focada – Ser bilíngue oferece algumas vantagens cognitivas. Uma é a habilidade de filtrar informações que não são necessárias, o que é essencial para maximizar a concentração e o foco. Outra é que conhecer dois idiomas é como montar, frequentemente, uma espécie de um quebra-cabeça, pois o cérebro fica, constantemente, oscilando entre duas línguas. Assim, a pessoa está colocando seu cérebro exercitar, por mais que não faça nada, de forma ativa.                                                                   

Aumenta a inteligência – Também pode ajudar uma pessoa a elevar sua capacidade intelectual, em termos de pontuação mais elevada em um teste padronizado de vocabulário, matemática e leitura. Aprender outro idioma também ajuda a despertar a criatividade. Inclusive, auxilia o cérebro a processar informações sensoriais, o que quer dizer que o indivíduo pode estar mais sintonizado com seu ambiente e captar informações, de modo mais ágil e atento. Isso explica, de forma parcial, o motivo pelo qual os adultos bilíngues são capazes de aprender uma terceira língua mais rapidamente do que um adulto monolíngue consegue aprender um segundo idioma.

Por que algumas pessoas tem mais facilidade para aprender línguas do que outras? 

A capacidade de falar uma língua existe em todo ser humano (que não tenha alguma patologia da linguagem, obviamente). A língua materna, por exemplo, é aprendida de maneira natural, sem esforços, no núcleo familiar – daí o nome “materna”, dado que a mãe é o principal input – e nas relações sociais. Já a língua estrangeira é aprendida de maneira artificial e, por isso, demanda esforços. Aqui, vale uma analogia com o esqueleto humano. Ao nascer, o ser humano tem em torno de 350 ossos. Ao longo da vida, alguns desses ossos se juntam, se reduzindo para 206 ossos em um humano adulto. Do ponto de vista tanto do bebê como do adulto, o seu esqueleto é uma vantagem. Ossos menores e em maior quantidade garantem ao bebê uma maior flexibilidade para caber na barriga da mãe e para passar pelo estreito canal vaginal na hora do parto. Por outro lado, isso não lhe dá suficiente resistência para poder ficar em pé. Com a língua, acontece algo semelhante. Em torno da 21ª semana de gestação, adquirimos a capacidade de ouvir. Ouvimos a voz da nossa mãe e começamos a assimilar o que ela fala. Ao longo dos primeiros anos de vida, percebemos os sons que são importantes para nos comunicarmos e ignoramos os que não são. 

Então, aprender a falar tem mais a ver com descartar aquilo que não interessa, do que realmente aprender alguma coisa que não existia antes. Do ponto de vista do bebê, não falar é uma vantagem, pois lhe dá a capacidade de aprender qualquer língua do mundo. Do ponto de vista do adulto, essa especialização em apenas alguns contrastes de sons são o que lhe permite falar uma língua. Agora, a dificuldade em aprender uma língua estrangeira trata-se de ensinar ao cérebro um caminho contrário ao que ele percorreu. Aqueles sons e significados que foram ignorados durante os primeiros anos de vida devem, agora, ser assimilados. Só que o cérebro já os ignorou! É como voltar a quebrar os ossos. Dessa forma, é fato que aprender uma segunda língua facilita a aprendizagem de outras, pois embora você não tenha aprendido a terceira ou quarta língua, você já treinou o seu cérebro para desconstruir o que ele havia assimilado na língua materna. Assim, metade do trabalho já está feito. 

Ainda sobre língua estrangeira, algumas pessoas tem mais facilidade pra aprender línguas que outras. São múltiplos fatores. Levando em conta a idade, e conforme mencionei anteriormente, quanto mais jovens, menos descartados estão os sons das línguas que nos são estranhas. Isso explica porque os jovens tem mais facilidade em aprender línguas do que as pessoas mais velhas. Outro fator que ajuda a determinar essa facilidade é a quantidade de estímulo que recebemos. O cérebro que está em contato com a língua estrangeira apenas poucas horas por semana assimila os sons e significados de maneira muito mais lento do que aquele que o faz por muitas horas por dia. Temos ainda alguns processos significativos na aprendizagem de uma língua estrangeira quanto analisamos o fato de esquecermos algumas coisas que acabamos de aprender. Isso acontece porque realmente não aprendemos! Podemos chegar a entender o funcionamento de determinado sistema, mas nosso cérebro não julgou necessário guardar essa informação. E, sinceramente, ele tem razão! Para que gastar energia em lembrar de uma palavra em inglês, português ou espanhol se, para a minha sobrevivência, é muito mais importante lembrar que eu tenho um Google translate?

Vivendo aqui nos Estados Unidos poderíamos ser poliglotas, oportunidade essa que deveria ser deixada de herança e não ser desperdiçada – Nós adultos e nossos filhos dominando com fluência, português, inglês e o espanhol! Reflitam! 

Márcia Silva

Mestre em Ciências da Educação Superior

Graduações: Letras – Português e Inglês

Psicologia Clinica- Neuropsicologia

Consteladora Familiar, Sistêmica

musago@gmail.com