domingo, 5 maio, 2024 20:53

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Suicídio “Uma palavra incômoda”

Viver Magazine Março 2022 Psicologia

O suicídio responde por cerca da metade das mortes violentas no mundo, ceifando, sobretudo, jovens e adolescentes. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS),  uma pessoa tira a própria vida a cada 40 segundos no mundo. Os jovens estão entre os mais afetados pelo suicídio, que é a segunda causa de morte com idade entre 15-29 anos. Nem sempre quem desistiu de viver foi vítima de um trauma, mito muito comum nas tentativas de explicar o suicídio. Essas pessoas teriam, de fato, um transtorno na regulação da emoção. Entre as principais características de uma pessoa com Transtorno de Personalidade (TP). Podemos listar sensibilidade aguçada, reação extremada a estímulos emocionais, afeto instável e autoimagem pobre. A impulsividade é considerada um fator de risco, mas nem todas as pessoas impulsivas atentarão contra a própria vida; assim como nem todos os suicidas são impulsivos. Há indícios de que a impulsividade em pacientes com TP influa, por exemplo, no número de tentativas. Em compensação, pessoas pouco impulsivas são mais meticulosas no planejamento do ato e, como consequência, têm mais chances de “sucesso”. Quem se sente suicida pode buscar ajuda de diversas formas. Muitas vezes, contudo, o pedido de socorro passa despercebido ou é encarado de forma pejorativa. “Fulano só quer chamar a atenção”; “Quem quer se matar se mata, não avisa” e outras frases pouco empáticas são relatos comuns entre muitos pacientes. Esse preconceito infelizmente perdura ate hoje. Quando olhamos para uma pessoa famosa alguns podem ter a tendência a enxergar uma pessoa com uma vida cheia de glamour, de sucesso e de felicidade. No entanto, alguns casos de suicídio no mundo do Rock, por exemplo como o suicídio de Chester Bennington, (2017) têm mostrado que nem sempre a vida de fama é assim tão fantástica. Rodeadas de pessoas, amigos e fãs. Alguns famosos na verdade atravessam períodos de profunda tristeza, solidão e depressão, que geralmente termina nas drogas. 

As mídias sociais – Não há dúvida das vantagens que a internet proporciona, como economia de tempo, praticidade, proximidade e possibilidade de conexão com pessoas de interesses semelhantes. Porém, como tudo na vida, o mundo virtual também têm seu lado ruim. Ter mais de 300 amigos e não falar com nenhum, ficar triste por poucas curtidas, sentir-se excluído por não ter seu pedido de amizade aceito; são apenas alguns dos novos comportamentos gerados pelas redes sociais. A constante necessidade de aprovação virtual tem sido muita pressão. Outros agravantes são, os bullyings 24 horas por dia via redes sociais, que antigamente ficavam apenas no escolas.

Fatores de Risco e de Proteção – Dentre os indivíduos com maior risco de suicídio estão os que tentaram tirar a própria vida anteriormente e os que sofrem de alguma Doença Mental. A depressão apesar de sua imagem estar sempre relacionada ao suicídio, não é a única causa para o ato, tornando-se um dos Transtornos Mentais mais conhecidos e divulgados, que vêm sendo amplamente estudado. Apesar da maioria das pessoas com risco de suicídio apresentar transtorno mental, grande parte não procura um profissional de saúde mental, mesmo em países desenvolvidos, como aqui nos Estados Unidos.

Distúrbios Mentais com maior incidência ao Suicídio, e os sintomas característicos de cada um:

Depressão – Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é a segunda mais importante causa de incapacidade no mundo.  Caracteriza-se por: Sentir-se triste durante a maior parte do dia, quase todos os dias; Perder o prazer ou o interesse em atividades rotineiras; irritabilidade; desesperança; queda da libido; Perder ou ganhar peso (não estando em dieta); Dormir demais ou de menos; acordar muito cedo; sentir-se cansado e fraco o tempo todo; sentir-se – sem energia, inútil, culpado, peso para os outros, ansioso, com dificuldade em concentrar-se, tomar decisões e dificuldade de memória; pensamentos frequentes de morte e suicídio.

Transtorno Afetivo Bipolar – está associado a um maior risco de suicídio, especialmente nas fases de depressão e nos casos de troca rápida de humor. Caracteriza-se por alterações de humor que se manifestam, como episódios depressivos, alternando-se com episódios de euforia (também denominados de mania), em diversos graus de intensidade. Fase Depressiva: Mesmos sintomas da depressão; Fase Maníaca: Auto-imagem inflada ou grandiosidade; Menor necessidade de sono; Aumento da velocidade do pensamento; Não consegue concentrar-se em uma atividade; Põe-se em situações de risco.

Transtorno relacionado ao uso de álcool e substâncias – Geralmente as mortes não são notificadas como suicídio, confundido muitas vezes com overdose ou acidente de trânsito. Mesmo assim é, no conjunto, a segunda doença mental mais associada ao suicídio, após os transtornos do humor. O suicídio está relacionado com: Dependência; Abstinência; Tolerância; Agressividade; Impulsividade; Fraco controle dos impulsos.

Esquizofrenia – A esquizofrenia contribui com mais de 10% dos suicídios, por isso a importância da identificação precoce para  a prevenção Se manifesta por: Delírios; Alucinações; Discurso desorganizado. 

Transtornos de Personalidade (TP) – apresentam risco aumentado de suicídio em até 12 vezes para homens e 20 vezes para mulheres, especialmente os TP Antissocial e Borderline (limítrofe). “Sofre e faz sofrer a sociedade; Não aprende com a experiência”. Associa-se com outros transtornos psiquiátricos, como transtorno do humor e abuso de drogas; Alterações marcantes no jeito de sentir, perceber a si e ao mundo e se relacionar. Entre os jovens, o componente da impulsividade também é um fator relevante. Na adolescência, há importantes mudanças hormonais, e o cérebro passa por uma remodelação que torna mais difícil o controle de impulsos e a regulação das emoções. Com isso, conflitos familiares, problemas de comunicação social, vivências de abuso e outras situações extremas aumentam muito o risco de suicídio nessa faixa etária.

 

Como ajudar um parente ou amigo com pensamentos suicida – Nem todos que têm a intenção de cometer suicídio dão sinais. Sintomas que podem servir de alerta: falar muito sobre morte e vontade de morrer, expressar desesperança em relação ao futuro, comportamentos autodestrutivos e isolamento social podem indicar um intenso sofrimento psicológico. Nesse caso, é importante levar os sentimentos da pessoa a sério, demonstrar preocupação e ouvir atentamente o que ela tem a dizer, caso ela queira se abrir. Também procure incentivar a pessoa a buscar ajuda com um profissional de saúde mental para que ela inicie um tratamento e seja corretamente orientada.

Como lidar com a dor de perder alguém para o suicídio? A morte de alguém próximo por suicídio é sempre um baque. Neste momento difícil, é importante vivenciar o luto e aceitar que aquela decisão não foi sua. A mente vai naturalmente procurar causas para explicar a situação, mas dificilmente será possível compreender claramente todos os motivos. Sentimentos como culpa e raiva são comuns nesses momentos, mas para tudo há limite. É importante também buscar ajuda médica se sentir que não está conseguindo lidar com a situação de forma saudável. O suicídio está ligado ao sofrimento (percebido como insuportável e duradouro), impulsividade, pensamentos negativos, sensação de incompreensão ou falta de apoio de outras pessoas, esgotamento, dificuldade em encontrar alternativas para a solução de conflitos e pedidos de ajuda (nem sempre muito claros). Observem os chamados 4 D’s – Depressão, Desesperança, Desespero e Desamparo.

Mitos: “Quem fala que quer se matar, não se mata”, é um mito que pode prejudicar a prevenção do suicídio, pois, muitas pesquisas já mostraram que grande parte das pessoas dão sinais ou falam sobre seus pensamentos suicidas antes de morrer; “conversar sobre suicídio induz a pessoa a querer tirar a própria vida”; é preciso tratar esse assunto de forma cuidadosa e respeitosa, conversar abertamente para ajudar a pessoa em risco a conseguir ajuda. Quem pensa em suicídio não quer necessariamente morrer, geralmente busca colocar fim a uma situação de dor insuportável que parece não ter fim. Além disso, com frequência pessoas que tentam (ou morrem por) suicídio experimentam, ao mesmo tempo, o desejo de colocar fim à dor ou à vida, mas também o desejo de continuar a vivendo.  Pessoas em risco de suicídio precisam ser escutadas com atenção e sem julgamentos para que possam reorganizar suas ideias, sentimentos e comportamento. É importante saber que o comportamento suicida é multifatorial e que não existe um fator único que possa explicar o motivo pelo qual um suicídio acontece. Vários fatores de risco ou de proteção individuais (biológicos, psicológicos), história de vida, fatores culturais e estressores estão envolvidos no suicídio. A prevenção pode ser desenvolvida de várias formas, tudo o que  promove a saúde mental, a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas está relacionado à prevenção do suicídio. Neste artigo procurei apenas apresentar os Distúrbios, de modo a disseminar a informação sobre cada um deles, por isso, não substitui a avaliação psicológica e tratamento psiquiátrico, feitos por um profissional capacitado.