terça-feira, 30 abril, 2024 04:30

MATÉRIA

Um Natal mais que especial

Muitas pessoas consideram que o natal, ocasião em que se comemora o nascimento de Jesus Cristo, é um momento mágico em que todos se reúnem para celebrar o amor, a paz e a união entre as pessoas, deixando de lado as desavenças ocorridas no passado e colocando em prática os princípios e os ensinamentos daquele que, por muitos, é considerado o maior exemplo de vida que já andou por essa terra. O objetivo deste breve artigo é fazer com que o leitor reflita sobre real significado do natal, pois esta é uma realidade que muito frequentemente passa despercebida.

A primeira coisa que nos chama à atenção referente ao nascimento de Cristo nas Escrituras, pois a sua concepção aconteceu de maneira milagrosa. Ele foi gerado pelo próprio Deus, o Autor da Vida, no ventre de Maria pelo poder do Espírito Santo, conforme anunciado a ela pelo anjo Gabriel, para dar início ao cumprimento daquilo que há muito tempo o Senhor havia prometido – a salvação eterna do Seu povo (Mt 1.21).

Quando Adão e Eva desobedeceram a Deus, isso afetou a todos aqueles que viriam a se tornar “sua descendência”. Após esse fato, Adão e Eva perderam seu estado de comunhão inicial com o Senhor. Essa condição continua sendo transmitida a todos os seus descendentes de modo que todos, com exceção dos que já entenderam o plano de Deus para suas vidas, estão afastados de Deus e vivendo fora da Sua vontade. Desde o pecado de Adão e Eva existe a promessa, feita pelo próprio Deus, de que um salvador viria ao mundo para reverter essa terrível situação (Gn 3.15). É correto afirmar, portanto, que Cristo veio ao mundo para desfazer essa separação que havia entre o homem e Deus e quebrar a barreira do pecado que separava a criatura do Criador de maneira a restaurar o modelo de relacionamento instituído por Deus. Nesse sentido, Jesus disse que havia vindo ao mundo para “buscar e salvar o que estava perdido” (Lc 19.10). Mas afinal de contas quem é Jesus Cristo de Nazaré?

Em uma conversa com seus discípulos, Jesus faz a eles uma pergunta chave: “Quem vocês dizem que eu sou?” (Mt 16.15). Pedro lhe respondeu prontamente: “”Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16). Em seguida Jesus afirmou a Pedro que esta resposta estava correta, mas que aquela constatação não poderia ter vindo apenas da razão de Pedro, mas sim do próprio Deus lhe dando entendimento.

Quando começamos a ler o evangelho de João, logo no primeiro capítulo, lemos o seguinte acerca da pessoa de Jesus: “No princípio era o verbo. E o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus. Ele estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito. Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens”. Em determinado momento na história, o próprio Deus tornou-se homem para viver neste mundo (Fp 2.5-8; Cl 2.9) para que a promessa da vinda do Salvador que Ele próprio havia feito no passado pudesse ser cumprida.

Visto que o homem está separado de Deus por causa de sua desobediência (Is 59.2; 64.6), ele próprio jamais poderia quitar sua dívida para com o Senhor de modo a se aproximar dEle, pois Deus instituiu que aquele que pecasse deveria estar eternamente separado dEle como castigo (Rm 6.23). Isso nos mostra que a iniciativa de reconciliação deveria partir do próprio Deus em direção ao homem, e não o contrário. Deus é amoroso de fato, mas Seu amor não pode passar por cima de Sua Santidade, nem de sua justiça (retidão moral). O perdão de Deus exige a reparação do erro para que somente então, haja reconciliação entre Ele e quem O ofendeu. Para que o homem pudesse de fato poder se relacionar com Ele novamente sem qualquer impedimento, o preço pelo pecado do homem deveria ser pago, mas não por ele próprio. Por isso, o pagamento foi feito pelo próprio Deus quando Ele, na pessoa de Cristo, encarnou, viveu como homem na terra sem pecado (Hb 4.15), e foi morto naquela cruz “sem ter merecido castigo algum”.

Cristo foi, como homem, nosso representante, levando uma vida perfeita de obediência, a qual nós, jamais conseguiríamos levar por termos em nós, uma natureza inclinada para o que é ruim. Como homem, ele foi também nosso substituto na cruz, pois o castigo que era nosso, caiu sobre ele. Por isso Paulo nos diz que “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele [em Cristo] nos tornássemos justiça de Deus” (2 Cor 5.21). Na cruz. Deus estava quitando, por meio do castigo de seu próprio corpo humano, uma dívida que era nossa para com Ele mesmo, de modo que, nós pudéssemos ter livre acesso a Ele (Cl 2.13-14). E Ele fez isso por amor às Suas criaturas, que por si mesmas, jamais poderiam se reconciliar com Ele.

Com isto em mente, qual seria a nossa resposta para a pergunta que Jesus fez aos discípulos? Quem Jesus é para nós? Ao discursar com os mestres da lei de seu tempo, Jesus disse a eles o seguinte: “Se vocês não crerem que Eu Sou, de fato morrerão em seus pecados” (Jo 8.24). Lembre-se que o nome “Eu Sou” foi o nome que Deus usou para se referir a Si próprio no Antigo Testamento. Entender isso é de fundamental importância para que nós possamos também usufruir daquilo que Cristo trouxe para nós quando morreu naquela cruz, a saber, a reconciliação com o Pai e a vida eterna em Sua presença. E apenas crer que Cristo e Deus Pai são, em essência, o mesmo é suficiente para me tornar participante de tão grande salvação? A resposta está naquele que talvez seja o mais famoso versículo de toda a bíblia: “Porque Deus amou o mundo de tal forma, que deu seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).

Para termos acesso ao que Deus fez por nós, precisamos crer (confiar, seria a melhor maneira de se entender isso) na pessoa de Cristo e em sua obra como sendo suficiente para nos reconciliar com Deus e nos livrar do castigo que merecemos. A salvação que Deus nos proporciona não é alcançada por nossas obras ou nossa obediência. As Escrituras deixam isso bem claro ao afirmar que “somos salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.” (Ef 2.8-9). A salvação é pela graça de Deus (favor imerecido), por meio da fé (confiança nele e em sua obra), e não por nossa própria obediência. “A obediência deveria ser resultado da gratidão a Ele, e não a causa do merecimento do favor divino”.

Após termos visto qual foi o propósito do nascimento, da vida e da morte de Cristo, bem como quem Ele de fato é, segundo Suas próprias palavras e de suas testemunhas oculares, devemos, em primeiro lugar, passar a olhar para Ele com outros olhos. Não apenas como um mestre, um exemplo, um grande homem ou um revolucionário religioso, mas sim como a encarnação do Deus Todo-Poderoso que, por amor a nós, abriu mão da Sua posição de glória para que através de Sua obra na terra, nós pudéssemos ser reconciliados com Ele, através da confiança naquilo que Ele realizou por nós, e não com base naquilo que nós fazemos por Ele. Que possamos fazer dessa ocasião festiva, em que se celebra o nascimento do Salvador, um momento de louvor a Deus e de agradecimento por tamanho amor com o qual Ele nos amou, imerecidamente. Reconhecer tudo isso e entender Seu amor e Sua misericórdia para conosco irá nos ajudar a fazer com que esse amor também possa fluir dos nossos corações em direção ao próximo (principalmente os que não merecem nosso amor) de modo que, através disso, toda a honra e todo o louvor sejam dados somente ao Senhor. Que possamos declarar ao mundo as Suas maravilhas e as Suas grandezas em nossas vidas. Feliz Natal!